domingo, 10 de abril de 2016

ÉDIPO



Posted: 5.11.07 by Glauber Ataide in Marcadores: Psicanálise 



O texto que se segue é, em sua maior parte, um resumo que fiz dos pontos que considerei mais importantes do livro “Édipo – O complexo do qual nenhuma criança escapa”, do autor J.-D. Nasio, Jorge Zahar Editor.

O Complexo de Édipo é considerado a pedra fundamental do edifício psicanalítico. Seu nome foi retirado do mito grego do rei Édipo, que ao nascer recebeu um oráculo que dizia que ele mataria seu próprio pai e se casaria com a sua mãe. Mesmo sendo tomadas todas as providências para que a profecia não se cumprisse, ele acabou matando o seu pai (sem saber quem era) e casando-se e tendo um filho com a sua própria mãe (só descobrindo posteriormente que era sua mãe).

Mas de onde e por que surgiu esse conceito na psicanálise? Segundo J.-D. Nasio, todo conceito psicanalítico surge para explicar um problema encontrado na prática clínica. Assim, perguntamos: de qual problema, então, o Complexo de Édipo é solução? A resposta é: do problema de como se forma a nossa sexualidade e de como alguém se torna neurótico.

O Complexo de Édipo se desenvolve de forma diferente nos meninos e nas meninas. Vamos expor, primeiramente, de como ele se dá nos meninos.


O Complexo de Édipo nos meninos

A partir dos três anos de idade, os meninos focalizam o seu prazer sobre o pênis. Nessa idade, o pênis se torna a parte do corpo mais rica em sensações e se impõe como a zona erógena dominante.

Porém, aos quatro anos, o pênis não é apenas o órgão mais rico em sensações. É também o objeto mais amado e o que reclama mais atenções. Assim, tal culto ao pênis, característico dessa idade, o eleva ao nível de símbolo de poder e de virilidade. Quando o pênis se torna, aos olhos de todos - meninos e meninas - o representante do desejo, ele recebe o nome de FALO.

O falo não é o pênis enquanto órgão. E um pênis fantasiado, idealizado, símbolo da onipotência e do seu avesso.

Excitado sexualmente, o menino de quatro anos vê surgir dentro de si uma força misteriosa, até então desconhecida: o impulso de se dirigir ao outro, ou, mais exatamente, de se dirigir aos seus pais - aos corpos deles - para ali encontrar prazer. Mas que desejo é esse? É um desejo sexual.

Mas cabe aqui desfazer um mal entendido muito comum. Na psicanálise, tudo o que é genital é sexual, mas nem tudo o que é sexual é genital. Sendo assim, o desejo sexual do menino em direção a seus pais não é um desejo exclusivamente genital pelo fato de ser sexual.

Os três movimentos fundadores desse desejo do menino são: desejo de possuir o corpo do outro, desejo de ser possuído e desejo de suprimir.

Ora, sem ser possível atingir a satisfação desses três desejos incestuosos - obter o gozo absoluto de possuir o corpo da mãe; ser possuído pelo pai (ser sua coisa e fazê-lo gozar); e o gozo absoluto de suprimir o pai - o menino cria fantasias que lhe dão prazer ou angústia, mas que, de toda forma, satisfazem imaginariamente seus loucos desejos.

Mas o que é uma fantasia? Uma fantasia é uma cena imaginária, geralmente consciente, que propicia consolo à criança. Ela tem como função substituir uma ação ideal que baixa a tensão do desejo e propicia prazer.

Nessa idade, porém, o menino tem uma visão do corpo nu feminino, o qual é desprovido de pênis. Ele, que antes pensava que todas as pessoas no mundo possuíam um falo, agora percebe que existem seres castrados, sem pênis. Então, surgem as fantasias de angústia, pois, se existem seres que não possuem pênis, ele também pode perder o seu. Essas fantasias de angústia são: o medo de ser castrado pelo pai repressor, o medo de ser castrado pelo pai sedutor e o medo de ser castrado pelo pai rival.

Dessa angústia de castração vem a resolução da crise edipiana, que consiste em três etapas: 1) recalcamento dos desejos; 2) renúncia aos pais como objeto de desejo e 3) incorporação dos pais como objeto de identificação.

Ele deve fazer uma escolha: ou salva o seu falo-pênis ou fica com a sua mãe. Por causa do medo de perder seu falo-pênis, ele renuncia aos pais como objetos sexuais e recalca os seus desejos inconscientes.

Duas conseqüências decisivas ocorrem na estruturação da personalidade do menino ao fim do Complexo de Édipo: o surgimento de uma nova instância psíquica, o superego, e a confirmação de uma identidade sexual nascida por volta dos dois anos de idade e afirmada mais solidamente após o fim da puberdade.

O superego é instituído devido a um gesto psíquico surpreendente: o menino, ao renunciar aos pais como objeto sexual, os incorpora como objetos do seu eu. Na impossibilidade de tê-los como parceiros sexuais, promete inconscientemente ser como eles em suas ambições, fraquezas e ideais. Aqui vale lembrar-nos de Shakespeare: “Com o tempo você descobre que há muito mais do seus pais em você do que você supunha”.

A identidade sexual é instalada progressivamente pelo seu contexto familiar, social e lingüístico, assim como pelas sensações erógenas que emanam de seu genital e a atração pelo pai de sexo oposto. Antes do Édipo, a criança ainda não sabe dizer se é menino ou menina, que o pai é um homem e a mãe uma mulher. É só na puberdade que essa identidade vai se consolidar.




O Complexo de Édipo nas meninas

O Complexo de Édipo se desenvolve de forma um pouco diferente nas meninas. Elas passam primeiramente por uma fase pré-edipiana. Ao passo em que um menino de quatro anos tem três desejos incestuosos - de possuir, de ser possuído e de suprimir o outro -, a menina tem apenas um: o de possuir a mãe.

Neste período, ela julga deter, assim como um menino, um falo, e se sente onipotente. Mas um evento crucial ofuscará o orgulho da garotinha: ela verá o corpo nu masculino, dotado de um pênis, e verá que o menino possui algo que ela não tem. A reação da menina é de decepção: "Ele tem algo que eu não tenho!". Até então, fiava-se em suas sensações de poder vaginal e clitoridiano, que a confortavam em seu sentimento de onipotência. Agora que viu o pênis, duvida de suas sensações, e julga que o poder está no corpo do outro, no sexo masculino. A menina vê-se assim dolorosamente despossuída, pois o cetro da força não é mais encarnado por suas sensações erógenas, mas pelo órgão visível do menino.

Aqui, então, ela sofre com a dor de ter sido privada do falo. Enquanto o menino sente a angústia de castração, a menina vive a dor de uma privação, de uma perda. Lembrem-se que o que levou o menino à resolução do Édipo foi a angústia de castração, isso é, o medo de perder o falo. Mas a menina constata que ela não tem o falo, isso é, não tem nada a perder. Enquanto o menino sofre uma angústia, a menina sofre uma dor real - uma dor de ter sido privada de algo que ela julgava possuir. Ela sente-se então enganada. Mas quem teria mentido pra ela dizendo-lhe que ela possuía um falo todo-poderoso, senão a sua mãe? Sim, a onipotente mãe mentiu a ela sofre o falo, um falo que ela mesma também não possui. Uma mãe desprovida de falo, assim como ela, e que merece agora apenas desprezo.

É nesse exato momento que a menina, despeitada, esquiva-se da mãe, e em sua solidão, fica furiosa por ter sido privada e enganada.

Ao constatar o falo no menino, com seu orgulho ferido, ela sofre, sente-se lesada em seu amor-próprio e reivindica o que acha que lhe é de direito: "Quero esse falo de volta e o terei nem que o tenha que arrancar do menino!". A menina é então presa de um sentimento que a psicanálise chama de "inveja do pênis", mas que o autor J.D.-Nasio prefere chamar de "inveja do falo". Segundo Nasio, esse termo enfatiza melhor o fato de que a menina inveja não o órgão peniano do menino, mas sim o símbolo de potência por ele encarnado. Uma coisa é invejar o falo, outra é desejar o pênis de um homem.

Vale ressaltar que inveja não é desejo, e que para que uma menina venha a desejar um pênis, é necessário primeiro se tornar mulher, isso é, resolver o Édipo após sexualizar e dessexualizar o seu pai.

Agora entra em cena a figura do pai, o grande detentor do falo. É quando a menininha magoada e sempre ciumenta se volta para ele para lhe reivindicar seu poder e sua potência. Quer ser tão forte quanto o pai e ter de volta aquilo que perdeu.

É então que o pai lhe fala: "Não, nunca lhe darei o falo, pois ele pertence à sua mãe!". Claro que nenhum pai diz isso à filha; esse pai é um pai caricatural, fantasiado. Se um pai tivesse que dizer algo de verdade a um pedido desses, ele diria apenas o seguinte: "Não posso lhe dar o falo, simplesmente porque esse falo não existe! O falo que você me pede é um sonho, uma quimera de criança!".

Essa recusa do pai é recebida pela filha como uma bofetada que põe fim a toda esperança de um dia possuir o mítico falo. Ela acaba de compreender que nunca o terá, mas mesmo assim não se resigna. Ao contrário, lança-se agora com todas as forças nos braços do pai não mais para lhe arrancar o poder, mas para ser ela mesma a fonte do poder. Sim, ela queria ter o falo, mas agora ela quer ir além, ela quer ser o falo, ser a coisa do pai. Isso é, ela quer ser o próprio falo, a favorita do pai.

Em virtude do não, da primeira recusa paterna, surge agora o desejo incestuoso de ser possuída por ele, de ser o falo do pai. Quando era invejosa, adotava uma atitude masculina; agora que é desejante, adota uma postura feminina. Assim, ao sexualizar o pai, a menina entra efetivamente no Édipo. Por sinal, a fantasia de prazer que melhor ilustra o desejo edipiano de ser possuída pelo pai é geralmente expressa pela frase: "Quando crescer, vou me casar com o papai".

Essa entrada no Édipo é também o momento em que a mãe, após ter sido afastada, volta à cena e fascina a filha por sua graça e feminilidade. A menina então, espontaneamente, aproxima-se e identifica-se com a mãe. O comportamento edipiano da menina inspira-se completamente no ideal feminino encarnado pela mãe, na observação e no aprendizado de como seduzir um homem. É nessa fase que as meninas adoram observar a mãe se maquiando ou se embelezando. Mas é aqui que a mãe é vista, além de como um ideal, como uma grande rival. Assim, realiza-se o primeiro movimento de identificação da filha com o desejo da mãe: o de ser a mulher do homem amado e dar-lhe um filho.

Mas da mesma forma que o pai se recusou a dar o falo à filha, ele agora recusa tomá-la como objeto sexual e a considerá-la seu falo. Depois que a primeira recusa - "Não lhe darei meu falo!" - permitiu à menina se reaproximar da mãe e com ela identificar-se, a segunda - "Não a quero como mulher!" leva a filha a identificar-se com a pessoa do pai.

Ocorre aqui então um fenômeno curioso, mas extremamente saudável no Édipo feminino: uma vez que a menina não pode ser o objeto sexual do pai, ela quer ser então como ele. "Já que você não quer saber de mim como mulher, então vou ser como você!". A menina aceita recalcar o seu desejo de ser possuída pelo pai, sem com isso renunciar à sua pessoa. Enquanto o menino edipiano resigna-se a perder a mãe por covardia, a menina, por sua vez, que nada mais tem a perder, obstina-se audaciosamente a se apoderar do pai. Ela mata seu pai fantasiado, mas o ressuscita como modelo de identificação. Identificada com os traços masculinos do pai após ter se identificado com os traços femininos da mãe, a menina enfim abandona a cena edipiana, abrindo-se agora para os futuros parceiros de sua vida como mulher.

Notem que as duas identificações constitutivas da mulher - identificação com a feminilidade da mãe e com a virilidade do pai - foram desencadeadas por duas recusas do pai: recusa de dar o falo à filha e recusa de tomá-la como falo.


Glauber Ataide

AUTISMO ????



Meu Filho é Autista? Saiba identificar sintomas de autismo


O autismo é uma disfunção do desenvolvimento cerebral que acomete até 1 % da população, sendo mais comum em meninos (mas ocorrendo também em meninas). Existem vários graus e tipos de autismo, por isso, os portadores podem ser bem diferentes entre si (tanto em gravidade, como no perfil dos sintomas apresentados). Essa disfunção geralmente se apresenta de forma evidente antes dos 3 anos de idade. Infelizmente, no Brasil o diagnóstico ainda é muito tardio, ocorrendo quase sempre na idade escolar (em torno dos 6 anos de idade). No entanto, pais, familiares, educadores e profissionais de saúde mais atentos e informados podem mudar essa estatística, identificando sinais iniciais leves e encaminhando casos suspeito para uma avaliação do especialista (geralmente o neuropediatra ou psiquiatra infantil). O reconhecimento e a intervenção precoce estão associados a um melhor resultado.
A criança com autismo, na maioria das vezes, não apresenta alterações visíveis no rosto ou no corpo (diferente de outras doenças, como a síndrome de Down, por exemplo, aonde existem características suspeitas na fisionomia). Quando bebê, geralmente alimenta-se bem, ganha peso e é ativo. Com o tempo, no entanto, seu desenvolvimento assume aspectos peculiares e ocorrem distorções no amadurecimento da linguagem, no contato interpessoal e no comportamento.
O momento ideal para o diagnóstico (ou ao menos uma suspeita clínica) é entre 18 e 36 meses. Mas mesmo antes disso, podem ocorrem indícios que devem ser atentamente acompanhados pelo especialista. O sinal de alarme mais comum é o atraso na linguagem, mas quando isso ocorre de forma evidente, geralmente a criança já apresenta uma série de sintomas como restrição social, dificuldade de percepção e interação com o outro e comportamentos peculiares, tais como: apego às rotinas, brincadeiras concretas, estereotipias, intolerância sensorial (ao barulho e luzes intensas), etc. Em bebês abaixo de 1 ano e meio o diagnóstico é muito mais difícil pois a demanda social é baixa e os sintomas podem ser brandos e pouco específicos: alinhamento diferente no colo da mãe, pouco olho no olho durante as mamadas, crises frequentes de choro sem motivo aparente, pouca busca e imitação de rostos humanos, entre outros.
O autismo não aparece em exames de rotina, não é apontado no teste do pezinho, nem mesmo em ressonâncias ou tomografias. O diagnóstico é baseado em queixas familiares e escolares aliado a avaliação médica estruturada e a impressão do especialista. A causa do distúrbio é ainda desconhecida, mas acredita-se em fortes determinantes genéticos, sendo injusto culpar vacinas e o método de criação por essa patologia. A genética é evidente quando se estuda casos de recorrência familiar, ainda mais alta em gêmeos idênticos (mesmo que criados à distância).
Abaixo, listarei alguns sinais e sintomas frequentes no autismo. Lembrando que a composição clínica é extremamente variada e que diversas patologias podem mimetizar alguns aspectos do autismo (principalmente aos olhos de não especialista), tais como: baixa acuidade auditiva, dislexia, psicopatia, neuropatias metabólicas, etc. Por isso, essa lista abaixa se presta apenas para levantar uma suspeita e conduzir a criança a uma avaliação personalizada e especializada.

1-    Dificuldade em olhar nos olhos
2-    Não mudam o comportamento na presença de outra pessoa
3-    Dificuldade em imitar caretas e expressões faciais
4-    Parecem “surdas” reagindo pouco ou nada mesmo ao ser chamada pelo nome
5-    Mostram-se incomodadas quando fora da sua rotina ou em ambientes com muitos estímulos
6-    Não se sentem a vontade com abraços, beijos e toques
7-    Apresentam atraso no desenvolvimento da comunicação interpessoal (verbal ou não verbal)
8-    Dificuldade em compreender metáforas e ironias (linguagem concreta)
9-    Dificuldade em iniciar ou sustentar um diálogo
10-Brincam de forma diferente, com objetos concretos e previsíveis (hélice de ventilador, rodando um prato, empilhando brinquedos, alinhando carrinhos, etc.).
11-Não brincam muito de forma lúdica e imaginativa, tipo “faz de conta”
12-Apresentam olhar vago e por vezes parecem distantes
13-Presença de estereotipias motoras. Balançar o tronco, a cabeça ou outras partes do corpo, aparentemente sem uma intenção clara. (apesar de esta característica ser muito famosa, não é presente em todos os casos, ou é por vezes sutil)
14-Ataques repentinos e aparentemente imotivados de fúria (intolerância ambiental)
15-Parecem ser resistentes à dor.
Como podemos ver os sintomas giram em torno de 3 eixos: alteração de linguagem e comunicação, comportamento peculiar e redução evidente da interação social.
O autismo é uma disfunção crônica, o tratamento exige medidas variadas e individualizadas caso-a-caso. De modo geral, a criança precisa de uma equipe multidisciplinar com abordagem clínica, fonoterápica, fisioterápica e pedagógica, a fim de inibir os comportamentos disfuncionais e desenvolver suas habilidades mais adaptativas. A resposta é melhor quanto antes às terapias forem iniciadas.
No caso de qualquer suspeita é fundamental procurar um especialista.

Fonte – Neurologista Leandro Teles – CRM 124.984.
Formado e especializado pela USP e Membro Efetivo da Academia Brasileira de Neurologia (ABN)

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