Criança Desobediente ou Agitada (Hiperativa)?
Postado por Dr.
Cesar Vasconcellos de Souza em 28 de janeiro de 2010
As
pessoas perguntam o que fazer com alguém agitado (geralmente criança). Elas
querem uma resposta objetiva. Anseiam por um remédio em forma de gotas,
comprimido, supositório, injeção, para resolver logo o assunto. Querem algo
concreto para acabar com o problema.
O
“mundo moderno” tem buscado soluções descartáveis, superficiais, sintéticas,
feitas em laboratório, seja lá o que for, menos pensar da causa para o efeito.
Quando nós, médicos, gastamos longo tempo numa consulta para explicar as causas
do sofrimento do paciente e evitamos oferecer uma rápida consulta logo seguida
de prescrição de medicamentos, alguns pacientes não gostam disso porque estamos
tentando mexer na causa do problema, que pode ser mais complexa do que
pensamos. Mexer na causa em geral envolve tocar em coisas difíceis de serem
abordadas e mudadas no estilo de vida da pessoa. Estilo de vida envolve o que
comemos, bebemos, a forma de falar, os pensamentos que nutrimos na consciência,
como expressamos os sentimentos, hábitos de dormir, a prática ou não de
exercícios físicos, etc. Mudar o estilo de vida pode não ser fácil. É mais
fácil sair da consulta médica com a receita, ir na farmácia, comprar os
remédios e ir para casa na ilusão de que eles curarão tudo.
Perguntas
importantes a serem feitas quanto ao que fazer ao lidar com criança ou adulto
agitado podem ser: O ocorreu nos parentes nas duas últimas gerações dessa
pessoa acelerada? A maneira de pensar e agir deles pode ter contribuido
geneticamente para a hiperatividade desse indivíduo? Foram (ou são) avô, avó,
pai, mãe, pessoas agitadas?
Uma
pessoa pode ser agitada no pensar mais do que nos movimentos do corpo. Ou pode
ser muito acelerada nos pensamentos, com dificuldade de esperar o outro
terminar de falar, atropelando as idéias da outra pessoa, pode estar com um ouvido
na conversa e ao mesmo tempo com três pensamentos diferentes correndo pela
mente. Ou podem ser aceleradas quanto às atitudes, tendo sempre urgência em ter
que fazer algo AGORA, com dificuldade de ficar quieto, não relaxa o corpo, tem
que estar usando os músculos numa tarefa.
Uma
pessoa impulsiva em sua forma de pensar, ao ler esse artigo, poderá pensar
assim: “Puxa! Eu tava crente que esse médico iria dar o nome do remédio para
hiperatividade para eu comprá-lo já! Mas ele tá falando coisas que não entendo
bem (ou não quero entender), em vez de falar logo o nome do remédio para
pessoas agitadas!” Percebe a agitação mental nessa fala? Esta pode ser a mãe ou
o pai de uma criança agitada.
Qual
a diferença entre dificuldade de prestar a atenção e a hiperatividade?
Dificuldade em prestar a atenção inclui: não colocar atenção nos detalhes,
parece que não escuta quando falam com ela, falha em terminar tarefas,
dificuldade em organizar tarefas, evita tarefas que exijam esforço, esquece de
coisas que precisam ser levadas para a escola ou para casa, distrai-se
facilmente, é frequentemente uma pessoa esquecida. Dificuldade com a
hiperatividade inclui: não conseguir ficar sentado, correr ou trepar em coisas
quando não devia fazer isto, não conseguir brincar sossegadamente, falar
demais, interromper as pessoas frequentemente, fica irriquieto ou contorce-se
quando sentado, dá respostas impensadas.
Um
primeiro passo para lidar com crianças agitadas é perceber se e o quanto os
cuidadores dela são agitados, na mente, no corpo, ou em ambos. Eles também
precisam mudar. Um segundo passo tem que ver com o cérebro. É difícil ou
impossível mudar um comportamento ruim tendo o cérebro intoxicado. Estudo na
Universidade de Southhampton com 153 crianças de 3 anos de idade e 144 entre 8
e 9 anos de idade mostrou aumento da hiperatividade nas que usavam corantes
artificiais junto ou separado com o corante de refrigerantes, benzoato de
sódio. Eliminando corantes da dieta da criança, a hiperatividade diminuiu e
voltou a aumentar usando-os de novo. Os corantes do estudo: amarelo crepúsculo
(E110); amarelo quinolínico (E104); carmoisina (E122); vermelho alura (E129);
tartazina (E102) e ponceau 4R (E124). Publicado na revista médica The Lancet,
vol.370, issue 9598, pag.1560-1567, 3Nov2007. Dar à criança alimentação
natural, vegetariana, permite o cérebro funcionar bem.
O
pediatra Dr. Sergio Spalter diz que crianças precisam se sentir seguras,
confiantes e acolhidas. Mas, em vários momentos da vida não damos isto para
elas, por causa de brigas do casal, nascimento de um irmão, pais superocupados,
etc. A criança sente falta do aconchego, não sabe lidar com isto racionalmente,
daí tende a manifestar esta falta com agitação, rebeldia ou adoece fisicamente
sem causa, etc. Diante deste comportamento, os pais ficam nervosos e
estressados ainda mais. Isto causa irritação na criança e aí o ciclo vicioso se
completa. http://drsergiospalter.blogspot.com/2008/02/criana-agitada-que-no-para.html
Faz parte da solução o seguinte:
1) Acolha a criança,
reservando um tempo diário, se possível, para ela.
2) Valorize as conquistas que
ela fez, mesmo que pequenas demais segundo sua avaliação.
3) Tenha regras claras em
casa, para organizar a disciplina. Explique o que pode e o que não pode ser
feito. Estabeleça os limites.
4) Não se irrite quando a
criança quebrar uma regra, gritando com ela. Não fale 10 vezes que ela errou.
Não seja cínico com ela. Aplique a regra, sem ficar nervoso e sem cara fechada.
5) Se ela quebrar de novo a
regra, aplique a disciplina previamente combinada.
6) Depois da disciplina, não
fique emburrado com a criança. Ao ser multado, por exemplo, por alta
velocidade, ninguém fica emburrado com a gente o dia todo. Pagamos a multa e
pronto.
7) Elogie muito a criança
agitada quando ela fez qualquer coisa certo.
8) Evite encher sua casa com
muitos bibelôs, porcelanas, vasos de vidro, pois crianças hiperativas tem
dificuldade com coordenação motora.
9) Na sala de aula a criança
hiperativa deve sentar-se longe da janela, de preferência na primeira fileira,
para diminuir as distrações.
Dr. Cesar Vasconcellos de Souza, médico
psiquiatra e psicoterapeuta, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria,
membro da American Psychosomatic Society, consultor psiquiatra da revista Vida
& Saúde onde mantém coluna mensal, professor de Saúde Mental, visitante, do
College of Health Evangelism e "Institute of Medical Ministry" do
Wildwood Lifestyle Center and Hospital, Estados Unidos, Diretor Médico do
Portal Natural, autor dos livros "Casamento: o que é isso?" e
"Consultório Psicológico".