quarta-feira, 11 de novembro de 2009
crônica ANJO DESCALÇO
Arrumando as velhas fotografias, num misto de saudade e de amor deparo-me com um pequenino anjo, triste, feinho, mas inocente e muito amado. Amado pelo papai, pela mamãe que, mesmo na pobreza do auxiliar de carpintaria e da bela professorinha, nunca deixaram de cumprir o gosto da filhinha: vestir de anjinho nem que fosse com vestido comprado de segunda mão.
Que saudade me deu! Um vestido meio curto, um pé descalço, uma coroinha tão simplesinha! Mas era tudo muito amado e sonhado. Era sonhado até coroar Nossa Senhora, que nunca me deixaram coroar e que coroei no meu coração de menininha pobre. Sonhava até com o cartucho de amêndoas grandão, que nunca ganhei, mas ganhei quatro bênçãos de Deus.
Nesse ir e vir de recordações lembrei-me o porquê do pé descalço: o meu sapatinho mais lindo, aliás o único de sair, estava furado mesmo no dedão e eu, menina birrenta queria ir com ele. Que fazer? Era chegada a hora do casamento e eu seria anjo-dama, o que se usava naquela época.
Mamãe era amorosa demais, mas brava ainda mais e, nesse dia, para minha surpresa, disse com muita calma: - Já sei você vai só com um sapato, façamos de conta que machucou seu pezinho, estamos certas?
Não é que eu concordei. Fui para a Igreja como se fosse o mais lindo anjo da terra! E no fundo do meu coração eu pensei: É tão bom ter uma mamãe tão inteligente, não é mesmo dona. Francisquinha?
Ah! Fotografias... Uma forma de trazer ao presente toda a beleza de nosso passado!
Cleide menezes
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