A importância da psicanálise na educação
“...As dificuldades exprimem um ritmo, mas não impedem o desenvolvimento. Precisamos ter sensibilidade para incluir cada sujeito em sua particularidade, promovermos situações de aprendizagem e trabalhos com a diferença...”
Em educação se faz necessário uma postura crítica, um embasamento teórico do educador em relação aos saberes escolares, a forma de como podem ser trabalhados e principalmente conhecer o ser: sua estrutura, sua alma, suas dores e angústias. É necessário conhecer seus limites, suas necessidades, seus problemas, suas deficiências, seu sofrimento psíquico.
O professor, a quem chamo de formador de seres humanos, não cabe outra alternativa senão tornar-se intelectual. Não é possível mais permanecer assentado sobre seu saber acumulado, considerado empobrecido. É preciso: mais criatividade, mais afetividade, presença que faz mudanças e, desdobramentos.
A psicanálise tem uma abordagem que nos permite entender as relações humanas e as suas dificuldades, a partir do auto conhecimento. Se me conheço, minhas relações com o outro serão diferenciadas, afetivas, compreensivas e, principalmente, psiquicamente equilibradas.
O auto conhecimento é libertador e nos leva a aprender lidar com o desconhecido, com o conflito, com o inusitado, com o erro e o desejo.
O ser. humano não é só o cérebro é “gente”. E se escolhemos trabalhar com “gente” é fundamental olharmos para as diferenças que envolvem a estruturação psíquica com suas conseqüências e diferentes formas de adaptação ao social, o que implica convivermos com um não saber, que não se sabe e por que. É um desafio de buscar caminhos adequados, conhecendo suas diferentes patologias e conseqüentemente: como aprender.
Freud revolucionou a concepção do sujeito humano com a psicanálise. Ela atua no sujeito que ensina e naquele que aprende. É necessário que todas as imagens sejam quebradas e muitas vezes o sujeito emperra o processo para não perder os seus ideais e, portanto se quebra o vínculo transferencial. É o momento da intervenção para contribuir para que o sujeito se torne mais coerente com a sua singularidade.
Ao fracassar na escola, pode estar expressando seu mal estar por não se inserir nos padrões estabelecidos por estes valores. É preciso ajudá -lo a encontrar um lugar social produtivo da forma como lhe é possível ou encontrar respostas por outras vias ou ensinar a lidar com o erro e enxerga -lo como construção do conhecimento e não como entrave.
O psicopedagogo é o primeiro a fazer constantes reflexões sobre sua maneira de atuar. Só assim ele poderá fazer devidas intervenções no processo do outro. “Somente a palavra (o símbolo) quebra o circuito de imagens solidificadas” (Lacan).
Um ser humano tem seu funcionamento próprio, único e dependente de suas estruturas internas. É o momento de escuta e de pensar um lugar que lhe possibilite uma inserção social positiva.
A psicanálise vem desvendar o por que do funcionamento da personalidade do sujeito e o por que de seus atrapes em aprendizagem.
Freud dizia: “A nossa civilização é em grande parte responsável pelas nossas desgraças. Seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições primitivas”.
No porão do nosso inconsciente se encontram grandes obstáculos que nos impedem de caminhar. Segundo Freud, para que se aprenda é necessário abrir o baú e verificar-se inteiro para si mesmo, descobrindo o eu dentro e o seu eu fora para se ter o prazer de aprender e superar suas dificuldades.
A característica essencial do trabalho psicanalítico é o deciframento do inconsciente e a integração de seus conteúdos na consciência. Isto porque é este conteúdo desconhecido e inconsciente que determina, em grande parte, a conduta do homem e do grupo, as dificuldades para viver, relacionar, o mal estar, os sofrimentos e os entraves no aprender.
Na Europa e na América do Norte, o conhecimento da psicanálise vem sendo usadona educação há um bom tempo, no Brasil, ainda é estereotipada em nosso meio. Nós associamos a psicanálise com o divã; a prática se restringia mais a consultório.
Hoje, é possível constatar que estão se voltando para a pesquisa e produção de conhecimentos que possam ser úteis na compreensão dos fenômenos de entraves educacionais e dos fenômenos sociais graves, como o aumento do adolescente com a criminalidade, o surgimento de novas formas de sofrimentos psíquicos, depressão infantil, anorexia, síndrome do pânico, sexualização da infância.
A partir desta compreensão e de suas observações, os psicanalistas tentam criar modalidades de intervenção no social que visam superar o mal estar da civilização e notoriamente, auxiliar os especialistas no processo ensino e aprendizagem.
Cada individuo é único e tem a sua história e só a partir dela podemos usar o método interpretativo no desvelamento dos entraves da aprendizagem.
Reconhecemos aqui ainda o aluno que é espontâneo, mas não tem boas notas e o submisso que obtém ótimas notas. Aqui talvez o espontâneo seja muito mais criativo e curioso na vida do que aquele que é submisso.
A criança desde bebê cria e inventa brinquedos, é criativo. Se acontece de ser reprimido, poda-se o seu agir. E se esse desastre não acontece a espontaneidade e a criatividade se manifestam e a criança age pelo puro prazer de fazê-lo.
Com isso se sente sujeito, agente da conquista, e o mesmo acontece com o prazer de aprender se ele não é subornado ou levado a aprender por medo –(a experiência dos ratinhos e choque de Skinner).
“... Todas as pessoas grandes foram primeiras crianças...” Antoine de Saint Exupéry.
A escuta e o diálogo são atitudes importantíssimas na relação professor/aluno, principalmente quando ele vem de famílias desestruturadas, violentas, negligentes.
A psicanálise pode nos ajudar como base psicoterápicas, aconselhamento, orientação para que nossas crianças possam traduzir em catarses os fatos traumáticos ligados a sua infância. Esta liberação leva à eliminação dos sintomas e entraves.
Muitas vezes o que ficou no porão do id, no reservatório psíquico, são os traumas, que, eliminados estabelecem o equilíbrio entre nosso id e superego, permitindo uma abertura e elevação do ego e compreendendo que aprender é um ato de prazer e principalmente um ato de amor.
O principal desafio para pais e professores é levarem essas crianças a adquirirem confiança em si mesmas, acreditarem que são capazes e que “aprender” é uma experiência prazerosa.
Dizia um grande escultor sobre a beleza de suas obras:
“_ A pedra pede: crava aqui que eu quero sair para fora.” A criança diz: _ Por favor, ajude-me a fazer claro, o que está escuro em minha alma. Quero ver o mundo com os olhos de amor e sentir na pele o prazer de sonhar, viver com esperança e prazer, porque eu quero aprender e ... __ Eu posso!
Cleide Maria da Costa Menezes
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