Leonardo
Mascaro
Meditação high-tech
Apontado como o pioneiro no que se entende por neurofeedback no Brasil, o psicólogo Leonardo Mascaro vem obtendo expressivos resultados clínicos com o auxílio de modernas tecnologias aliadas a técnicas de meditação
Por Fernando Savaglia Fotos: Fabio Hurpia
Meditação high-tech
Apontado como o pioneiro no que se entende por neurofeedback no Brasil, o psicólogo Leonardo Mascaro vem obtendo expressivos resultados clínicos com o auxílio de modernas tecnologias aliadas a técnicas de meditação
Por Fernando Savaglia Fotos: Fabio Hurpia
Fernando
Savaglia é jornalista tem formação em Psicanálise e escreve para esta
publicação
|
As últimas duas décadas foram extremamente férteis no que
diz respeito às descobertas sobre o funcionamento do mais complexo sistema de
processamento integrado de dados da natureza: o cérebro humano.
Seja no que se refere à sua fisiologia ou anatomia, a
Neurociência vem se beneficiando cada vez mais de modernas tecnologias em busca
desse entendimento.
Na prática, esses avanços permitiram a psiquiatras e
psicoterapeutas atualizarem abordagens clínicas, abrindo uma nova gama de
possibilidades na busca de como conter as psicopatologias.
Autor do livro A arquitetura do eu – Psicoterapia,
meditação e exercícios para o cérebro e criador do primeiro sistema
de Psicoterapia baseado em treinamento neurológico no mundo – a
Neuropsicoterapia – o psicólogo Mascaro Mascaro vem obtendo expressivos
resultados agregando à sua prática clínica treinamentos por meio de
neurofeedback. Seu objetivo é resgatar e normalizar as atividades elétricas do
cérebro a partir da normalização das frequências e amplitudes das ondas de
transmissão (Delta, Theta, Alfa e Beta) geradas no córtex cerebral.
Utilizando modernas tecnologias, como filtros digitais
para detectar padrões patológicos, o trabalho do psicólogo pós-graduado pelo
Núcleo de Neurociências e Comportamento da Universidade de São Paulo (USP) pode
ser considerado pioneiro no Brasil no campo de neurofeedback. A tecnologia
empregada em suas pesquisas e atendimentos vem comprovando também, de maneira
categórica, os benefícios que a meditação é capaz de provocar na fisiologia e
no psiquismo das pessoas.
Para Mascaro, à medida que avança, a neurociência vem
desmistificando antigos paradigmas. “Este conhecimento está mostrando que não
estamos tão à mercê do nosso inconsciente como achávamos e que é possível, sim,
nos libertarmos de certas prisões que formamos ao longo de nossa vida”.
Acompanhe a seguir a entrevista exclusiva concedida à Psique
Ciência & Vida pelo terapeuta em seu consultório no bairro do Jardim
Paulista, na região oeste de São Paulo.
Psique – Como
funciona a terapia com o sistema de neurofeedback?
Mascaro – O neurofeedback surgiu do entendimento de que se é possível treinar as ondas cerebrais. Hoje sabemos que a partir do momento em que você toma consciência de um evento no seu corpo você é capaz de modificá-lo. Tenho acesso aos dados relativos à atividade elétrica do cérebro do paciente, a partir de eletrodos dispostos sobre seu couro cabeludo. Estes dispositivos são conectados a uma interface, que faz a transformação deste sinal para o computador ler e me apresentar os resultados na tela. A vocação do córtex, por exemplo, é gerar frequências Beta. Quando você identifica uma área de funcionamento de alta amplitude fora deste padrão, há a condição de saber o que está acontecendo e que frequência tem de treinar para dar condição àquele cérebro de sair do padrão funcional equivocado e voltar ao adequado. A partir daí, estabeleço critérios de feedback, isto é, do que vou treinar. O cérebro entra num jogo e recebe sinal positivo toda vez que produz atividade dentro do que estabeleci. No estresse pós-traumático, por exemplo, a frequência Alfa da região temporo-parieto-occipital, normalmente estará entre 15 e 20 mV (microvolts), quando o normal seria entre 5 e no máximo 10 mV. Com o treino diante da tela o paciente recebe um sinal sonoro toda vez que produz menos do que 10 mV. Aí, a ansiedade automaticamente começa a diminuir, e aos poucos o cérebro começa a “aprender”.
Mascaro – O neurofeedback surgiu do entendimento de que se é possível treinar as ondas cerebrais. Hoje sabemos que a partir do momento em que você toma consciência de um evento no seu corpo você é capaz de modificá-lo. Tenho acesso aos dados relativos à atividade elétrica do cérebro do paciente, a partir de eletrodos dispostos sobre seu couro cabeludo. Estes dispositivos são conectados a uma interface, que faz a transformação deste sinal para o computador ler e me apresentar os resultados na tela. A vocação do córtex, por exemplo, é gerar frequências Beta. Quando você identifica uma área de funcionamento de alta amplitude fora deste padrão, há a condição de saber o que está acontecendo e que frequência tem de treinar para dar condição àquele cérebro de sair do padrão funcional equivocado e voltar ao adequado. A partir daí, estabeleço critérios de feedback, isto é, do que vou treinar. O cérebro entra num jogo e recebe sinal positivo toda vez que produz atividade dentro do que estabeleci. No estresse pós-traumático, por exemplo, a frequência Alfa da região temporo-parieto-occipital, normalmente estará entre 15 e 20 mV (microvolts), quando o normal seria entre 5 e no máximo 10 mV. Com o treino diante da tela o paciente recebe um sinal sonoro toda vez que produz menos do que 10 mV. Aí, a ansiedade automaticamente começa a diminuir, e aos poucos o cérebro começa a “aprender”.
"A meditação é uma das coisas mais
sérias
que já se descobriu ou se produziu em termos do conhecimento humano" |
Psique –
Pode-se dizer que você acaba normalizando as funções por condicionamento?
Mascaro – Sim. É fantástico observar que no neurofeedback não é preciso ter a plena consciência do que se está fazendo, apenas é necessário aprender o caminho para repetir o padrão. É possível fazer uma comparação com o dirigir. Você sabe quais são as conexões sinápticas do ponto de vista sensório e motor para se ter a condição de guiar um carro? Na verdade, você nem pensa na hora de trocar a marcha, pisar no freio, etc. O cérebro aprende desde que ele tenha uma informação adequada para isso. No caso, ele recebe a informação do que ele está fazendo e passa a modificar ele mesmo esta atividade. No início, o padrão patológico se sobrepõe aos exercícios sugeridos. Na fase seguinte, é interessante notar que em todo começo de sessão ainda aparece o padrão antigo e prontamente o cérebro reconhece o treino, até que chega o ponto em que se liga o equipamento e o cérebro já está no padrão desejado. Uma vez que o cérebro aprende, o paciente é liberado.
Mascaro – Sim. É fantástico observar que no neurofeedback não é preciso ter a plena consciência do que se está fazendo, apenas é necessário aprender o caminho para repetir o padrão. É possível fazer uma comparação com o dirigir. Você sabe quais são as conexões sinápticas do ponto de vista sensório e motor para se ter a condição de guiar um carro? Na verdade, você nem pensa na hora de trocar a marcha, pisar no freio, etc. O cérebro aprende desde que ele tenha uma informação adequada para isso. No caso, ele recebe a informação do que ele está fazendo e passa a modificar ele mesmo esta atividade. No início, o padrão patológico se sobrepõe aos exercícios sugeridos. Na fase seguinte, é interessante notar que em todo começo de sessão ainda aparece o padrão antigo e prontamente o cérebro reconhece o treino, até que chega o ponto em que se liga o equipamento e o cérebro já está no padrão desejado. Uma vez que o cérebro aprende, o paciente é liberado.
Psique – Em
seu livro você afirma que seu trabalho vem confirmando que patologias de origem
psíquica muitas vezes são, na verdade, padrões intervenientes na fisiologia de
nossos neurônios agindo em nosso cérebro...
Mascaro – Sim, e o mais interessante é que, pelas minhas observações, algumas psicopatologias se originam, por exemplo, por anóxia no parto, pancadas, traumas, lesões, etc., e se estes comprometimentos existirem é possível verificar diretamente a partir da leitura da atividade neurológica do paciente.
Mascaro – Sim, e o mais interessante é que, pelas minhas observações, algumas psicopatologias se originam, por exemplo, por anóxia no parto, pancadas, traumas, lesões, etc., e se estes comprometimentos existirem é possível verificar diretamente a partir da leitura da atividade neurológica do paciente.
Psique –
Todo comprometimento psíquico vai gerar, como você descreve no livro, uma
“assinatura” cerebral?
Mascaro – Depressão, ansiedade, déficit de atenção, pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), além de enxaquecas, derrames, traumatismo cranioencefálico com ou sem exposição do encéfalo, etc., cada um destes comprometimentos funcionais psíquicos ou físicos tem uma assinatura neurológica própria e averiguável no eletroencefalograma (EEG).
Mascaro – Depressão, ansiedade, déficit de atenção, pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), além de enxaquecas, derrames, traumatismo cranioencefálico com ou sem exposição do encéfalo, etc., cada um destes comprometimentos funcionais psíquicos ou físicos tem uma assinatura neurológica própria e averiguável no eletroencefalograma (EEG).
Meditação no laboratório
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O trabalho do psicobiologista
Maxwell Cade, da Universidade de Londres, foi determinante no desenvolvimento
do processo de neurofeedback como o conhecemos hoje. No início dos anos 1970,
Cade, que já praticava meditação há muitos anos, empreendeu extensa pesquisa
com swamis, yogues e monges budistas, no intuito de entender o que acontecia
na fisiologia destes meditadores. Com o auxílio do equipamento de
eletroencefalograma (EEG) que acabou desenvolvendo, o Mind Mirror, Cade pôde
apontar um caminho para aperfeiçoar o processo, traduzindo para uma linguagem
científica aquilo que até então era entendido apenas dentro de uma
interpretação espiritual.
Uma de suas discípulas, Anna
Wise, (com quem Mascaro obteve sua formação), deu continuidade ao seu
trabalho, sendo hoje considerada uma das maiores autoridades mundiais em
pesquisas sobre meditação por neurofeedback.
Para a identificação de padrões
neurológicos patológicos e seu tratamento por treinamento neurológico,
Mascaro utiliza, em seu consultório, um equipamento de EEG que, por também
fazer uso de filtros digitais, permite ler e apresentar, ao cérebro do
paciente, num intervalo de milésimos de segundo, sua própria atividade,
condição necessária para que o treinamento possa acontecer.
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Psique –
Estas assinaturas revelam o uso de medicamentos também?
Mascaro – Sim. No caso de depressão, por exemplo, a assinatura neurológica vai estar lá, porém com a amplitude do sinal mais baixo. A medicação não cura, ela suprime a atividade. O que vai resolver de fato é o treinamento neurológico. Não estou dizendo que a pessoa não deva ser medicada num estado agudo. Mas é preciso tirá-la do estado crônico de atividade. O cérebro perpetua padrões.
Mascaro – Sim. No caso de depressão, por exemplo, a assinatura neurológica vai estar lá, porém com a amplitude do sinal mais baixo. A medicação não cura, ela suprime a atividade. O que vai resolver de fato é o treinamento neurológico. Não estou dizendo que a pessoa não deva ser medicada num estado agudo. Mas é preciso tirá-la do estado crônico de atividade. O cérebro perpetua padrões.
Psique –
Como você trabalha com pacientes que sofrem de depressão?
Mascaro – Todo depressivo necessariamente tem uma queda de atividades nos lobos frontais. O lobo frontal esquerdo é o processador de emoções positivas; o direito é responsável pelas emoções negativas e regulação da expressão de ambas. Se você tem uma queda de atividade, isso vai gerar um atrofiamento cortical da região. No sistema de feedback trabalhamos a depressão em conjunto, isto é, os lobos frontais e as glândulas hipófise e pineal. Se você exercitar adequadamente a hipófise vai produzir uma maior atividade em áreas límbicas de processamento emocional, com outro perfil de atividade e feedback com o córtex.
Mascaro – Todo depressivo necessariamente tem uma queda de atividades nos lobos frontais. O lobo frontal esquerdo é o processador de emoções positivas; o direito é responsável pelas emoções negativas e regulação da expressão de ambas. Se você tem uma queda de atividade, isso vai gerar um atrofiamento cortical da região. No sistema de feedback trabalhamos a depressão em conjunto, isto é, os lobos frontais e as glândulas hipófise e pineal. Se você exercitar adequadamente a hipófise vai produzir uma maior atividade em áreas límbicas de processamento emocional, com outro perfil de atividade e feedback com o córtex.
Psique – O
uso do equipamento garante, então, um diagnóstico mais preciso?
Mascaro – Com certeza. Trabalho, por exemplo, com várias crianças indicadas por colégios para tratamento de Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH). Com o equipamento, meço T4, C4, T3 e C3, que são áreas motoras. Por aí, terei uma amostra do que está se passando no todo. Pela assinatura neurológica já posso fazer um diagnóstico diferencial: se estou diante de um caso de déficit de atenção geneticamente determinado ou se o processo teve origem numa anóxia no parto, por exemplo. A assinatura é muito clara, não fico apenas no aspecto clínico, a partir de sintomas. A uma dessas crianças, diagnosticada pelo psiquiatra como portadora de TDAH, foi prescrito o uso de Ritalina. Na hora que liguei o equipamento no garoto percebi, pela assinatura neurológica, que houve problemas de anóxia no parto, o que acarretou comprometimento dos lobos frontais. Neste caso, a Ritalina só vai piorar, e muito, o quadro.
Mascaro – Com certeza. Trabalho, por exemplo, com várias crianças indicadas por colégios para tratamento de Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH). Com o equipamento, meço T4, C4, T3 e C3, que são áreas motoras. Por aí, terei uma amostra do que está se passando no todo. Pela assinatura neurológica já posso fazer um diagnóstico diferencial: se estou diante de um caso de déficit de atenção geneticamente determinado ou se o processo teve origem numa anóxia no parto, por exemplo. A assinatura é muito clara, não fico apenas no aspecto clínico, a partir de sintomas. A uma dessas crianças, diagnosticada pelo psiquiatra como portadora de TDAH, foi prescrito o uso de Ritalina. Na hora que liguei o equipamento no garoto percebi, pela assinatura neurológica, que houve problemas de anóxia no parto, o que acarretou comprometimento dos lobos frontais. Neste caso, a Ritalina só vai piorar, e muito, o quadro.
Leonardo
Mascaro
Meditação high-tech
Apontado como o pioneiro no que se entende por neurofeedback no Brasil, o psicólogo Leonardo Mascaro vem obtendo expressivos resultados clínicos com o auxílio de modernas tecnologias aliadas a técnicas de meditação
Por Fernando Savaglia Fotos: Fabio Hurpia
Meditação high-tech
Apontado como o pioneiro no que se entende por neurofeedback no Brasil, o psicólogo Leonardo Mascaro vem obtendo expressivos resultados clínicos com o auxílio de modernas tecnologias aliadas a técnicas de meditação
Por Fernando Savaglia Fotos: Fabio Hurpia
Psique – O
próprio cérebro não se encarrega de fazer a substituição de neurônios das áreas
comprometidas por lesões?
Mascaro – Quando há uma lesão neurológica, seja lá qual for, o cérebro começa a produzir novos neurônios nas áreas límbicas, como o septo, o hipocampo, etc. Estes neurônios começam a migrar, só que a natureza deles é Theta, uma frequência mais lenta que Beta. Se levarmos em conta que a área de comprometimento já está lentificada, então a reposição destes neurônios vai perpetuar o problema. O que é preciso fazer é treinar a área para lhe dar possibilidade de ter outro comportamento. O que se vê nestes casos são as áreas vizinhas da comprometida, em fast Beta, tentando acelerar o processo.
Mascaro – Quando há uma lesão neurológica, seja lá qual for, o cérebro começa a produzir novos neurônios nas áreas límbicas, como o septo, o hipocampo, etc. Estes neurônios começam a migrar, só que a natureza deles é Theta, uma frequência mais lenta que Beta. Se levarmos em conta que a área de comprometimento já está lentificada, então a reposição destes neurônios vai perpetuar o problema. O que é preciso fazer é treinar a área para lhe dar possibilidade de ter outro comportamento. O que se vê nestes casos são as áreas vizinhas da comprometida, em fast Beta, tentando acelerar o processo.
Psique –
Você acredita que com o avanço das descobertas da Neurociência, a terapia por
palavras vai perder sua força?
Mascaro – A terapia por palavras pode produzir modificações no cérebro também. Porém acredito que existam formas de aprimorar os processos dando ao cérebro do indivíduo a oportunidade de superar algumas travas funcionais que de outra forma seriam muito difíceis de serem trabalhadas, com o objetivo de abrir os canais de comunicação entre o consciente e subconsciente, assim como permitir mudanças tanto funcionais quanto estruturais. Quando áreas do cérebro até então adormecidas são despertadas, os neurônios começam a produzir prolongamentos para a formação de sinapses. Isto é da natureza humana.
Mascaro – A terapia por palavras pode produzir modificações no cérebro também. Porém acredito que existam formas de aprimorar os processos dando ao cérebro do indivíduo a oportunidade de superar algumas travas funcionais que de outra forma seriam muito difíceis de serem trabalhadas, com o objetivo de abrir os canais de comunicação entre o consciente e subconsciente, assim como permitir mudanças tanto funcionais quanto estruturais. Quando áreas do cérebro até então adormecidas são despertadas, os neurônios começam a produzir prolongamentos para a formação de sinapses. Isto é da natureza humana.
Psique – No
seu livro você ensina exercícios para estimular a hipófise a partir do
direcionamento da concentração para ela. Apenas isso basta para estimulá-la?
Mascaro – Sim. Concentração é uma reunião de forças e a atenção é uma delas. A atenção lhe dá a condição de permanecer em algo. Quando você faz isso, o tecido neurológico responde e é percebido por uma pulsação na área. De olhos fechados é possível comprovar este processo. Se você se concentra nessa pulsação, assume o comando dela e passa a controlar seu ritmo e sua intensidade. Ao fazer isto de maneira consciente, vai estimular a hipófise a produzir hormônios fundamentais que participam também dos processos de neuromodulação.
Mascaro – Sim. Concentração é uma reunião de forças e a atenção é uma delas. A atenção lhe dá a condição de permanecer em algo. Quando você faz isso, o tecido neurológico responde e é percebido por uma pulsação na área. De olhos fechados é possível comprovar este processo. Se você se concentra nessa pulsação, assume o comando dela e passa a controlar seu ritmo e sua intensidade. Ao fazer isto de maneira consciente, vai estimular a hipófise a produzir hormônios fundamentais que participam também dos processos de neuromodulação.
"Quando áreas do cérebro até então
adormecidas são despertadas, há um processo neural natural.
Isto é da natureza humana" |
Psique –
Pacientes com comprometimentos resultantes de lesões ou acidente vascular cerebral
podem se beneficiar do neurofeedback?
Mascaro – Sim. Hoje 40% da minha agenda é dedicada a estes pacientes. É possível fazer um trabalho de resgate de funções neurológicas. Atendo um rapaz que sofreu um acidente de carro que o deixou com graves sequelas motoras. Em dez meses atingimos resultados fantásticos a ponto da fonoaudióloga que o atende querer conhecer mais sobre o neurofeedback
Mascaro – Sim. Hoje 40% da minha agenda é dedicada a estes pacientes. É possível fazer um trabalho de resgate de funções neurológicas. Atendo um rapaz que sofreu um acidente de carro que o deixou com graves sequelas motoras. Em dez meses atingimos resultados fantásticos a ponto da fonoaudióloga que o atende querer conhecer mais sobre o neurofeedback
Psique – Suas pesquisas apontam a meditação
como uma prática muito benéfica para a fisiologia e o psiquismo do homem.
Existem inúmeras técnicas de meditação conhecidas. Todas surtem o mesmo efeito?
Mascaro – Quando falamos em meditação as pessoas têm a tendência de confundi-la com a técnica em si. Técnicas existem inúmeras. Mas a meditação propriamente dita, não é uma técnica e sim um estado de consciência que emerge a partir de uma configuração elétrica bastante específica de atividade cerebral. Estamos falando de uma atividade que vai influir no nosso sistema neurofisiológico. A meditação atua primordialmente sobre a atividade do córtex, onde estão os corpos celulares de neurônios, responsáveis pelo processamento da informação no cérebro. Nestes estados de atividade cortical, o estado de consciência que emerge permite acessar conteúdos enraizados nas profundezas do inconsciente.
Mascaro – Quando falamos em meditação as pessoas têm a tendência de confundi-la com a técnica em si. Técnicas existem inúmeras. Mas a meditação propriamente dita, não é uma técnica e sim um estado de consciência que emerge a partir de uma configuração elétrica bastante específica de atividade cerebral. Estamos falando de uma atividade que vai influir no nosso sistema neurofisiológico. A meditação atua primordialmente sobre a atividade do córtex, onde estão os corpos celulares de neurônios, responsáveis pelo processamento da informação no cérebro. Nestes estados de atividade cortical, o estado de consciência que emerge permite acessar conteúdos enraizados nas profundezas do inconsciente.
Psique – O
indivíduo, quando medita, gera que tipo de frequência cerebral?
Mascaro – Alfa e Theta em alta amplitude. Porém é importante frisar que algumas psicopatologias como depressão, ansiedade, TOC, dentre outras, apresentam frequências em Delta, Theta e em Alfa. Você pode me perguntar se isso não seria um contrassenso. Na verdade, para eu estar em meditação, as frequências têm de estar sendo produzidas de maneira integrada à atividade cortical. Quando o córtex é prisioneiro de frequências lentas, que não deveriam estar ali, isso vai gerar uma assinatura de patologia. Tenho como averiguar se aquela frequência Theta, em alta amplitude, está sendo comprometedora no que se refere ao funcionamento do cérebro ou levando o indivíduo a um alto desempenho em razão da meditação.
Mascaro – Alfa e Theta em alta amplitude. Porém é importante frisar que algumas psicopatologias como depressão, ansiedade, TOC, dentre outras, apresentam frequências em Delta, Theta e em Alfa. Você pode me perguntar se isso não seria um contrassenso. Na verdade, para eu estar em meditação, as frequências têm de estar sendo produzidas de maneira integrada à atividade cortical. Quando o córtex é prisioneiro de frequências lentas, que não deveriam estar ali, isso vai gerar uma assinatura de patologia. Tenho como averiguar se aquela frequência Theta, em alta amplitude, está sendo comprometedora no que se refere ao funcionamento do cérebro ou levando o indivíduo a um alto desempenho em razão da meditação.
"È preciso tirar as pessoas do estado
crônico de atividades cerebrais patológicas.
O cérebro perpetua padrões" |
Psique – Os
aparelhos de neurofeedback podem aperfeiçoar o processo em busca de uma
meditação com efeitos mais efetivos?
Mascaro – Sim. Estes equipamentos de neurofeedback podem acelerar o processo que antes durava anos ou décadas. Quando você ia treinar com um instrutor ou mestre, na verdade o que acontecia era uma longa sequência de trabalhos mentais para se atingir esses estados. Alguns Swamis (veja glossário) como Satyananda Saraswati, da Universidade de Yoga em Bihar na Índia, usam aparelhos de neurofeedback para treinar seus discípulos. Ele encara o feedback como um passo importante no que se refere à tecnologia aplicada ao treinamento da meditação.
Mascaro – Sim. Estes equipamentos de neurofeedback podem acelerar o processo que antes durava anos ou décadas. Quando você ia treinar com um instrutor ou mestre, na verdade o que acontecia era uma longa sequência de trabalhos mentais para se atingir esses estados. Alguns Swamis (veja glossário) como Satyananda Saraswati, da Universidade de Yoga em Bihar na Índia, usam aparelhos de neurofeedback para treinar seus discípulos. Ele encara o feedback como um passo importante no que se refere à tecnologia aplicada ao treinamento da meditação.
Psique –
Muita gente ainda atribui à meditação um caráter místico...
Mascaro – É verdade, até porque a meditação entrou no ocidente muito atrelada a práticas alternativas e ao movimento new age. Mas a meditação é uma das coisas mais sérias que já se descobriu ou se produziu em termos do conhecimento humano. Erroneamente, também se criou o mito de que meditação é entrar em estado Alfa. Quando se começou a perceber que meditação produzia um aumento de Alfa, as outras frequências também presentes não foram notadas. Se você produzir só Alfa, vai estar num relaxamento profundo e só. O trabalho do cientista britânico Maxwell Cade (Veja quadro Meditação no laboratório) mostrou que, além de Alfa, existia também Theta. É aí que se encontra todo seu material emocional profundo e sua criatividade. Alfa, na verdade, permite a Beta (nosso consciente) acessar nosso inconsciente em Theta.
Mascaro – É verdade, até porque a meditação entrou no ocidente muito atrelada a práticas alternativas e ao movimento new age. Mas a meditação é uma das coisas mais sérias que já se descobriu ou se produziu em termos do conhecimento humano. Erroneamente, também se criou o mito de que meditação é entrar em estado Alfa. Quando se começou a perceber que meditação produzia um aumento de Alfa, as outras frequências também presentes não foram notadas. Se você produzir só Alfa, vai estar num relaxamento profundo e só. O trabalho do cientista britânico Maxwell Cade (Veja quadro Meditação no laboratório) mostrou que, além de Alfa, existia também Theta. É aí que se encontra todo seu material emocional profundo e sua criatividade. Alfa, na verdade, permite a Beta (nosso consciente) acessar nosso inconsciente em Theta.
Psique – É
possível apontar um padrão das frequências cerebrais das pessoas que habitam
uma grande cidade, com todos os desafios da vida moderna como a que vivemos?
Mascaro – Infelizmente, o resultado obtido com a maioria das pessoas no equipamento apresenta um padrão que chamo de ampulheta. Muito Beta e lá embaixo muito Delta, com estrangulamento de Alfa e Theta. Isto demonstra que as pessoas estão num racional exacerbado, sem nenhum acesso ao seu emocional. As frequências Delta funcionam como um radar, gerando um estado de constante atenção e são muito comuns em pessoas que sofreram algum trauma. Pode-se dizer que elas estão desconectadas de si mesmas.
Mascaro – Infelizmente, o resultado obtido com a maioria das pessoas no equipamento apresenta um padrão que chamo de ampulheta. Muito Beta e lá embaixo muito Delta, com estrangulamento de Alfa e Theta. Isto demonstra que as pessoas estão num racional exacerbado, sem nenhum acesso ao seu emocional. As frequências Delta funcionam como um radar, gerando um estado de constante atenção e são muito comuns em pessoas que sofreram algum trauma. Pode-se dizer que elas estão desconectadas de si mesmas.
Psique –
Você é meditador?
Mascaro – Há muitos anos. Hoje pratico uma meditação que trabalho muito em consultório, conhecida como Mente Desperta. Ela é, na verdade, um treinamento de ondas que você aprende a reconhecer a partir de estados interiores que se correlacionam com configurações elétricas no cérebro. O treinamento consiste em produzir uma configuração específica ao se agregar as frequências Alfa e Theta, características em estados meditativos, à Beta, que é a frequência de nossa consciência desperta comum. Em Beta, você encontra sua interface para o mundo. Quando você consegue associar seu estado de meditação a ela, pode-se dizer que tem a mente dos Swamis e Yogues. Aliás, todo o treinamento deles é voltado para atingir esta configuração.
Mascaro – Há muitos anos. Hoje pratico uma meditação que trabalho muito em consultório, conhecida como Mente Desperta. Ela é, na verdade, um treinamento de ondas que você aprende a reconhecer a partir de estados interiores que se correlacionam com configurações elétricas no cérebro. O treinamento consiste em produzir uma configuração específica ao se agregar as frequências Alfa e Theta, características em estados meditativos, à Beta, que é a frequência de nossa consciência desperta comum. Em Beta, você encontra sua interface para o mundo. Quando você consegue associar seu estado de meditação a ela, pode-se dizer que tem a mente dos Swamis e Yogues. Aliás, todo o treinamento deles é voltado para atingir esta configuração.
Psique – Os
praticantes de yoga também sofrem alterações em suas frequências cerebrais?
Mascaro – Muitas pessoas que praticam o yoga acreditam que os asanas (veja glossário) por si só são suficientes. Mas não. O yoga pressupõe a meditação como uma sequência natural e vai trabalhar o sistema nervoso simpático e o parassimpático. Ativa e relaxa, estende, alonga e relaxa. Isso vai fazer que os sistemas nervosos simpático e parassimpático se equilibrem. Esse equilíbrio modula as frequências cerebrais corticais. Vai criando um nível de coerência cortical que antes não existia. O silenciar da mente já provoca uma redução de Beta e você também desenvolve a concentração. No yoga, a concentração é dharana (veja glossário) e meditação é dhyana (veja glossário); tanto pode entrar em meditação treinando dharana quanto, treinando dhyana, chegar a dharana. Um leva ao outro.
Mascaro – Muitas pessoas que praticam o yoga acreditam que os asanas (veja glossário) por si só são suficientes. Mas não. O yoga pressupõe a meditação como uma sequência natural e vai trabalhar o sistema nervoso simpático e o parassimpático. Ativa e relaxa, estende, alonga e relaxa. Isso vai fazer que os sistemas nervosos simpático e parassimpático se equilibrem. Esse equilíbrio modula as frequências cerebrais corticais. Vai criando um nível de coerência cortical que antes não existia. O silenciar da mente já provoca uma redução de Beta e você também desenvolve a concentração. No yoga, a concentração é dharana (veja glossário) e meditação é dhyana (veja glossário); tanto pode entrar em meditação treinando dharana quanto, treinando dhyana, chegar a dharana. Um leva ao outro.
Psique –
Qual é a característica de funcionamento dos cérebros das pessoas que estão
vivenciando experiências descritas como o samadhi na tradição hinduísta ou o
satori da tradição zen-budista?
Mascaro – Existem diferentes níveis de samadhi (veja glossário). O primeiro nível correlaciona com o que Maxwell Cade (veja quadro Meditação no laboratório) descreveu como sendo Mente Desperta. Quando se produz alta coerência cortical neste nível, você promove um estado de atividade em que a membrana neurológica vira um condutor como se fosse cristal líquido. Aí, as informações são transmitidas a partir de pulsos de luz. É possível dizer que são estados quânticos de atividade cerebral. São estados que nunca serão visíveis em estudos com ratos em laboratórios, por exemplo. Por isso é tão complicado para o meio acadêmico aceitar essas realidades. Só que estamos falando de estados diferenciados de atividade cerebral. Na verdade, estamos falando de potenciais neurológicos que não foram plenamente manifestados e compreendidos ainda.
Mascaro – Existem diferentes níveis de samadhi (veja glossário). O primeiro nível correlaciona com o que Maxwell Cade (veja quadro Meditação no laboratório) descreveu como sendo Mente Desperta. Quando se produz alta coerência cortical neste nível, você promove um estado de atividade em que a membrana neurológica vira um condutor como se fosse cristal líquido. Aí, as informações são transmitidas a partir de pulsos de luz. É possível dizer que são estados quânticos de atividade cerebral. São estados que nunca serão visíveis em estudos com ratos em laboratórios, por exemplo. Por isso é tão complicado para o meio acadêmico aceitar essas realidades. Só que estamos falando de estados diferenciados de atividade cerebral. Na verdade, estamos falando de potenciais neurológicos que não foram plenamente manifestados e compreendidos ainda.
Glossário
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– Swamis – Distinção
dentro do hinduísmo para religiosos que possuem domínio sobre a própria
mente.
– Asanas – Os exercícios propostos pelo yoga visando regular o sistema fisiológico do praticante. – Dharana – A concentração que precede o estado meditativo no yoga. – Dhyana – A técnica meditativa do yoga. – Samadhi – Para os hindus, é um estado alterado de consciência que propicia êxtase alcançado por meio da meditação. – Satori – Na tradição budista seria o equivalente ao Samadhi, sendo que alguns autores se referem à palavra para designar o estado de iluminação. |