segunda-feira, 24 de agosto de 2015

APRENDIZAGEM




Objetividade e Subjetividade: uma via de mão dupla.

Cláudio Pires Cardoso
A aprendizagem ocorre na relação entre a objetividade ( a realidade, o conhecimento, a lógica, o
espaço, o tempo, o intelecto) e a subjetividade ( o simbólico, o desejo, as representações, os afetos).
Nos processos de ensino/aprendizagem, o simbólico se transmite ao mesmo tempo que o
conhecimento dito "científico", ou seja, a transmissão do conhecimento é também a transmissão de
nossas formas de ser e de crer. É importante assinalar que os processos de ensino/aprendizagem
são indissociáveis porque internalizamos modelos de aprender em reciprocidade aos modelos de
ensino com os quais interagimos durante a vida nos grupos aos quais pertencemos. (Beatriz Scoz)
Segundo o texto do módulo IV, 1ª lição, “...a psicopedagogia vê a aprendizagem como interface
entre inteligência e desejo, razão e emoção, objetividade e subjetividade, a estratégia que for
seguida deverá sempre alternar ambos os campos privilegiando aquele que mais necessita ser
trabalhado em cada caso particular.” Dentro desta perspectiva, o terapeuta da aprendizagem
precisará estar atento às características manifestadas pelo sujeito aprendente para poder elencar as
atividades interventivas que contribuirão para a superação da dificuldade observada.
Verificando as hipóteses da modalidade de aprendizagem formadas pelo indivíduo, é possível
delimitar o campo de propostas interventivas a ser aplicadas. Acompanhando o quadro abaixo
podemos melhor compreender o binômio objetividade/subjetividade e suas implicações quando
estas não estiverem equilibradas de modo a proporcionar ao sujeito a aprendizagem adequada.
HIPOACOMODAÇÃO Consiste em adaptar-se para que ocorra a internalização. A sintomatização
da acomodação poder resultar numa dificuldade de internalizar os objetos.
HIPERACOMODAÇÃO Consiste em abrir-se para a internalização, o exagero disto pode levar a
uma pobreza de contato com a subjetividade.
HIPOASSIMILAÇÃO Sua sintomatização resulta na pobreza no contato com o objeto, não
assimilando-o, mas apenas acomodando-o.
HIPERASSIMILAÇÃO Consiste no predomínio dos aspectos subjetivos sobre os objetivos
Considerando que a objetividade (a realidade, o conhecimento, a lógica, o espaço, o tempo, o
intelecto) e a subjetividade (o simbólico, o desejo, as representações, os afetos) são indissociáveis e
deflagram nossos modos de ser e de fazer, o desequilíbrio comprometem as estruturas da
aprendizagem acarretando a patologia.
Na Hipoassililação, por exemplo, sua sintomatização se traduz pela pobreza de contato com o objeto
que resulta em esquemas pobres e uma dificuldade de lidar com o lúdico e a criatividade. Seria
como se a energia transformativa deixasse de influenciar as estruturas cognitivas.
Se a condição do indivíduo for hiperassimilativa/hipo-acomodativa, percebemos que a criança não
aprende em virtude de um mecanismo altamente subjetivo. Neste caso, a estratégia interventiva
deve privilegiar atividades objetivas, que conectem com o real.
Para melhor ilustrar esta questão apresento um breve relato de um caso.
Caso N.
N. tem 5 anos, freqüenta o 3º período da Educação Infantil de uma escola municipal. Seus pais são
presentes no que tange ao acompanhamento e participação escolar. N. possui vínculo positivo com
os pais e com a irmã de 11 anos, matriculada na mesma escola e no mesmo turno. Ela o ajuda em
casa com suas tarefas escolares e demonstra afeto por e ele.
N. é uma criança pouco sociável e se comunica somente quando requisitado. Nos momentos da
rodinha de conversa, geralmente aparenta estar desconectado e às vezes encontra-se fantasiando
sobre as questões discutidas. A professora, percebendo as características de N. solicitou a ajuda do
Orientador da escola que ao conversar com o aluno identificou indícios de hiperassimilativos. É fato
que a criança nesta faixa etária simboliza sua realidade, entretanto, N. parece viver em um “conto de
fadas”.
Segue transcrição de trecho de uma conversa com N.
• Qual é o seu nome?
• Eu sou um dragão voador.
• Você gosta de voar?
• Não posso conversar agora.
• Por quê?
• Meu cérebro ainda está dormindo.
Em uma entrevista com a mãe do menino, foi revelado que o pai estimula demasiadamente as
fantasias do filho e que acha “uma gracinha” vê-lo viajando no mundo da imaginação. Ela não está
de acordo com essa postura do marido e questiona isso temendo que N. possa apresentar
distorções em sua identidade, adquirir problemas na aprendizagem e manifestar dificuldade para
distinguir entre o real e o simbólico.
A partir do relato acima podemos perceber que N. vive um conflito entre a subjetividade e a
objetividade, visto que recebeu estímulos que supervalorizassem sua imaginação. Por isso, grande
parte do tempo, o aluno pensa estar situado em um universo paralelo à realidade. Cabe neste caso,
realizar atividades que ofereçam maior contato com a lógica, com o pensamento reflexivo, com a
realidade.
Evidentemente, o terapeuta da aprendizagem programará uma intervenção pautada no resgate da
objetividade de N., sem, claro, prejudicar sua capacidade de simbolismo, pois para a criança é
preciso desenvolver de maneira saudável o equilíbrio entre estas duas vertentes do pensamento.
Podemos concluir, segundo o relato acima que a objetividade não prescinde a subjetividade. Ambas
devem atuar de forma harmônica. E, identificando os elementos causadores de conflito é possível
remover as barreiras que circunstancialmente estão causando dificuldade na apreensão da realidade
e na interação com o meio de modo a assimilar os conhecimentos a ele pertinentes.
Portanto, Cabe ao psicopedagogo transitar entre estes aspectos subjacentes à aprendizagem –
objetividade/subjetividade – para proporcionar ao paciente um espaço de reflexão sobre si, sobre o
vínculo formado com a aprendizagem, sobre a forma como a família concebe e favorece o
conhecimento e sobre a modalidade de aprendizagem exercida pelo sujeito. Atuando de maneira
sistemática, investigativa e assistiva é possível penetrar no mundo patológico que aprisionou a
aprendizagem e apontar para as chaves que irão libertar o saber.
Bibliografia
AMARAL, Silvia. Psicopedagogia, um portal para a inserção social. Ed. Vozes. Petrópolis, 2003.
CHAMAT, Leila Sara José Chamat. Relações Vinculares e aprendizagem: um enfoque
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FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e
sua família. ArtMed. Porto Alegre,1991.
__ Os idiomas do aprendente.ArtMed. Porto Alegre,2001.
__ O saber em jogo.ArtMed. Porto Alegre, 2001.
PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. ArtMed. Porto Alegre, 1992.
WADSWORTH, Barry J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget.Livraria Pioneira
Editora. São Paulo, 1992.
WAGNER, Adriana. Família em cena. Ed. Vozes. Petrópolis, 2002
WEISS. Maria Lúcia L.Psicopedagogia Clínica. DP&A Editora. Rio de Janeiro, 2000.
Webliografia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aprendizagem
http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=31

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