
Pai…  Mãe… de olhos mansos, sei que estás invisível em todas as coisas.  
 Que  o teu nome me seja doce, a alegria do meu mundo. 
 Traze-nos as coisas  boas em que tens prazer: 
 os  jardins, as fontes, as crianças, o pão e o vinho, os gestos ternos, as mãos  desarmadas, os corpos abraçados… 
 Sei  que desejas dar-me o meu desejo mais fundo, desejo cujo nome esqueci… mas tu não  esqueces nunca. 
 Realiza pois o teu  desejo para que eu possa rir. 
 Que  o teu desejo se realize em nosso mundo, da mesma forma como ele pulsa em ti.  
 Concede-nos contentamento nas alegrias de hoje: o pão, a água, o  sono…
 Que nossos olhos sejam  tão mansos para com os outros como os teus o são para conosco.  
 Porque, se formos  ferozes, não poderemos acolher a tua bondade. 
 E ajuda-nos para que  não sejamos enganados pelos desejos maus. 
 E  livra-nos daquele que carrega a morte dentro dos próprios olhos.  
 Amém. 
 Rubem  Alves
 
 
 
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