domingo, 25 de maio de 2014

DISLEXIA






A Dislexia como uma das principais causas dos distúrbios de aprendizagem na área da leitura e da escrita.

Nelita Pires de Figueiredo - Psicopedagoga Clínica e Institucional – FAED - UNIC
E-mail: nelita.pires@hotmail.com


O objetivo deste artigo é discorrer sobre a importância de se entender a DISLEXIA como um dos múltiplos fatores que interferem no processo de ensino-aprendizagem.

Por que uma criança não consegue aprender da mesma forma e no mesmo tempo dos demais colegas de sala de aula, embora apresente inteligência normal, integridade sensorial e receba estimulação e ensino adequados? Ainda nos dias atuais essa criança chega  a ser confundida com portadores de necessidades especiais e muitas vezes, sendo rotulada, de deficiente mental, incompetente, desleixada ou irresponsável.  O que essa atitude dentro da sala de aula, tem acarretado ao aluno que não consegue ler, escrever e não tem boa ortografia para idade? Pode a criança ser responsabilizada por tais deficiências? 
Entre as várias causas de problemas de aprendizagem, as últimas descobertas científicas apontam para Dislexia sendo uma delas. O termo dislexia é aplicável a uma situação na qual a criança é incapaz de ler com a mesma facilidade com as quais lêem crianças com faixa etária correspondente.
De acordo com estudos realizados, a definição de DISLEXIA vem do grego e do latim: Dis, de distúrbio, vem do latim, e Lexia, do grego, significa linguagem. Então, a Dislexia é uma disfunção neurológica que apresenta como conseqüência dificuldades na leitura e escrita.
“Entendemos por dislexia específica ou dislexia de evolução um conjunto de sintomas reveladores de uma disfunção parietal (o lobo do cérebro onde fica o centro nervoso da escrita), geralmente hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num contínuo que se estende do leve sintoma ao sintoma grave. A dislexia é freqüentemente acompanhada de transtornos na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e redação. A dislexia afeta os meninos em uma proporção maior do que as meninas” (M. Condemarin e M. Blomquist, Dislexia, manual de leitura corretiva, p. 21).
Ao que parece, por trás desses problemas específicos de aprendizagem, existe sempre um fator biológico, hereditário, isto é, há uma tendência de a mesma dificuldade ocorrer em outros membros da família. O disléxico tem geralmente uma história de vida, na qual, algum parente próximo apresenta a mesma deficiência de linguagem. Outras vezes, nasceu provavelmente de um parto difícil, em que podem ter ocorrido algum destes problemas: a- anoxia, ou seja, asfixia relativa; b- prematuridade do feto ou peso abaixo do normal; c- hipermaturidade, ou seja, o nascimento passou da data prevista para o parto. Adquiriu, quando criança, alguma doença infectocontagiosa, que tenha produzido convulsões ou perda de consciência. Considera-se ainda, o atraso na aquisição da linguagem ou perturbações na articulação da mesma, bem como, atraso para andar, problemas de dominância lateral (uso retardado da mão esquerda ou direita).
Segundo Drouet (1990), o professor de Ensino fundamental não tem a formação necessária para diagnosticar graves distúrbios de aprendizagem. Através da observação cuidadosa, ele poderá detectar diferenças ou falhas nos desempenhos de seus alunos.
A desinformação e a dificuldade de identificar possíveis “sinais” de dislexia, por parte dos pais e professores faz com que a criança mantenha  esse  problema por todo o considerado período da primeira infância. No entanto, vários estudos realizados têm constatado possíveis sinais de dislexia nesse período, por exemplo, parece difícil para essa criança entender o que está ouvindo; tendência a hiper ou a hipo-atividade motora; dificuldade para aprender a andar de triciclo; atraso no desenvolvimento motor desde a fase do engatinhar, sentar e andar; atraso ou deficiência na aquisição da fala; chora muito e parece inquieta ou agitada com muita freqüência entre outros.
Algumas características  marcantes da criança em idade escolar, sendo sintoma mais notório,  a acumulação e persistência de erros ao ler e escrever. A análise qualitativa da leitura oral de um disléxico revelará alguma ou várias das seguintes dificuldades:
1 – confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia: a-o; c-o; e-c; f-t; h-n; i-j; m-n; v-u; etc.
2 – Confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço: b-d; b-p; b-q; d-b; d-p; d-q; u-n; w-m; a-e.
Nelita Pires de Figueiredo*
3 – Confusão entre letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos: d-t; j-x; c-g; m-b; m-b-p; v-f.
4 – Inversões parciais ou totais de sílabas ou palavras: me-em; sol-los; som-mos; sal-las; pal-pla.
5 – Substituição de palavras por outras de estrutura mais ou menos similar ou criação de palavras, porém com diferente significado: soltou/salvou; era/ficava.
6 – Contaminações de sons.
7 – Adições ou omissões de sons, sílabas ou palavras: Famoso substituído por fama; casa por casaco.
8 –   Repetição de sílabas, palavras ou frases.
9 –  Pular uma linha, retroceder para a linha anterior e perder a linha ao ler.
10 – Excessivas fixações do olho na linha.
11 –Soletração defeituosa: reconhece letras isoladamente, porém sem poder organizar a palavra como um todo, ou então lê a palavra sílaba por sílaba, ou ainda lê o texto “palavra por palavra”.
12 – Problemas de compreensão.
13 – Leitura e escrita em espelho em casos excepcionais.
14 – Ilegibilidade.
15 – Em geral, a dificuldade do disléxico no reconhecimento das palavras obrigam-no a realizar uma leitura hiperanalítica e dedifratória. Como dedica seu esforço à tarefa de decifrar o material, diminuem significativamente a velocidade e a compreensão necessária para a leitura normal.
Sendo comum que estas com mais de doze anos de idade não revelem os sinais descritos através do exame de sua leitura oral, entretanto é fácil detectá-los na leitura silenciosa: ao ler, realizam uma leitura subvocal, isto é murmuram ou movem os lábios, já que se vêem obrigados a pronunciar as palavras para poder compreendê-las. Na medida em que, ao ler em silêncio, utilizam a mesma técnica que na leitura oral, a velocidade resulta excessivamente lenta.
Conforme Jonhson e Myklebust (1987), as características descritas na leitura dos disléxicos raramente se apresentam isoladamente. Freqüentemente se acompanham de outras perturbações que alteram a aprendizagem., as mais comuns são:
Alterações de memória: Alguns disléxicos apresentam dificuldades para a lembrança imediata. Outros apresentam muita dificuldade para lembrar fatos passados. Alguns não conseguem lembrar palavras ou sons que escutam. Outros apresentam dificuldades para memorizar visualmente os objetos, palavras ou letras.
Alterações na memória de séries e seqüências: Freqüentemente o disléxico apresenta dificuldade para aprender séries, tais como os dias da semana, meses do ano e o alfabeto. Custa-lhe a aprender a olhar a hora e tem dificuldades para relacionar um acontecimento com outro no tempo. 
Orientação direita-esquerda: Freqüentemente são os disléxicos incapazes de orientar-se com propriedade no espaço e aprender a noção de direita e esquerda. Geralmente a criança não consegue situar a direita e a esquerda em seu próprio corpo ou quando olha para outra pessoa. Quando tenta obedecer a instrução na sala de aula ou na ginástica, sente-se confusa e frustrada. Da mesma forma, tem forma tem freqüentes dificuldades para situar-se com relação aos mapas, globos terrestres e em seu próprio ambiente.
Linguagem escrita: Quando a criança não consegue ler com facilidade, tampouco consegue utilizar com propriedade os símbolos gráficos da expressão escrita. Em geral, o disléxico, caso não for severamente disgráfico (letra ilegível), consegue copiar, porém quando escreve um ditado e na escrita espontânea (dissertação) revela sérias complicações. Na maioria dos casos apresenta disortografia. Além, disso tem dificuldades para expressar idéias com base sintaxe, seqüência e estrutura adequadas. Quando escreve, revela sinais de confusões, inversões, adições, omissões e substituições.
Dificuldades em matemática: O disléxico pode ser capaz de automatizar os aspectos operatórios, porém apresenta dificuldades para aplicá-los na solução de problemas reais. Às vezes essa dificuldade provém do fato de ele não poder entender a formulação do problema, já que lhe é difícil ler. Nos disléxicos graves, falham também os aspectos operatórios, pois, eles invertem os números ou então sua seqüência.
                                           
 Outras pesquisas revelam ainda que, pode ocorrer dificuldade de aprendizagem independente da dislexia. A escrita de trás para frente e as inversões de letras e palavras são comuns nos “estágios iniciais” do desenvolvimento da leitura entre as crianças.
Outra revelação importante é que pelo fato da dislexia refletir num transtorno lingüístico, não há evidências de que o treino dos olhos possa diminuir o distúrbio. Tendo os disléxicos problemas na “nomeação” de letras “não na cópia” destas, implica que mesmo que ele aprenda a ler o fará de maneira lenta, o que se leva a concluir que a dislexia não é superada.
Para Orton, 1937 (apud. Drouet, 1990, p. 139), a dislexia seria explicada por uma inadequada instalação de dominância lateral (lateralidade). Drouet (1997) Explica que Orton se inspirou nos trabalhos de Broca que descreveu o centro de articulação da palavra em 1865. BROCA admite queo predomínio funcional de um lado do corpo se deve não à educação, mas sim à supremacia de um hemisfério cerebral sobre o outro. A escrita em espelho, o retardo da linguagem e a gagueira são também explicáveis, conforme Orton, por esse conflito de dominância dos hemisférios cerebrais por muitos autores.

CONCLUSÃO

Ser disléxico é condição humana e cada um tem o seu jeito de ser e de aprender. A Dislexia é um distúrbio real que interfere no processo de aprendizagem de leitura, por provocar na criança dificuldades específicas na aprendizagem da identificação dos símbolos gráficos; acarretando insucesso em outras áreas que dependem da leitura e da escrita. Contudo, há um desconhecimento quase que generalizado acerca desse assunto. Considerando que a dislexia ainda não é reconhecida e muitas vezes não é aceita por professores, pelos pais, enfim pela sociedade, sendo ignorada em casos de retenção de alunos ou evasão escolar em nosso país,  não se deve associá-la à desatenção, desmotivação, condição socioeconômica, baixa inteligência ou má alfabetização. Isso revela atitudes preconceituosas dentro da sala de aula, o que tem desmotivado ainda mais o aluno que não consegue ler, escrever e não tem boa ortografia para idade. Na verdade, a dislexia tem sido vista, pelos pesquisadores como circunstância hereditária devido a alterações genéticas, sendo caracterizada por apresentar alterações no padrão
neurológico do indivíduo. Tornando-se essencialmente necessário que o educador reconheça na criança características dos chamados distúrbios de aprendizagem, assumindo desafios de criar metodologias eficientes, no sentido de acolher cada uma delas, respeitando e entendendo sua individualidade; sendo necessário que se investigue, compreenda e se discuta como esta criança pode aprender adequadamente. Portanto, o diagnóstico e o tratamento cabem a uma equipe multidisciplinar  quanto  mais cedo melhor, diminuindo assim o sentimento de incapacidade, de baixa auto-estima entre outros. Tornando-o assim um sujeito  independente e auto-suficiente.
 

REFERÊNCIAS

CONDENARIN,  M.;   BLOMQUIST,  M.;  Dislexia: manual de leitura corretiva. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.           
 DROUET, Ruth Caribe da Rocha. Distúrbios de aprendizagem, 3ª ed. São Paulo: Ática, 1990.
JOHNSON, D.J.  & MYKLEBUST, H.R.  Distúrbios de aprendizagem. 2ª ed. São Paulo:  Pioneira, 1987.
JOSÉ, E. A. & COELHO, M. T. Problemas de aprendizagem. São Paulo: Ática, 1993.

 


Joao Beauclair



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