terça-feira, 28 de agosto de 2012

No caso específico da criança, muito se tem de dúvidas sobre a eficácia da abordagem cognitivo-comportamental com este público, muito pela pouca produção de trabalhos científicos sobre TCC focada na criança no Brasil e muito pelos paradigmas criados frente à visão psicanalítica sobre o desenvolvimento infantil e sobre os instrumentos de identificação e interpretação das neuroses.
Erroneamente atribui-se a falta do lúdico (do Latim “ludus” que significa brincar, ou jogar) e/ou da análise das representações mnêmicas no trabalho cognitivo-comportamental; a diferença marcante a qual podemos atribuir diante a análise psicanalítica é o fato de como se encara o desenvolvimento biopsicossocial e as estruturas das relações fantasiosas da criança em cada abordagem.
Para o terapeuta cognitivo-comportamental o pressuposto da inconsciência não existe, ou no mínimo não são categorizados (resguardado a Terapia do Esquema), os padrões seguem o subconsciente, a consciência e a metacognição, e reage diretamente a subordinação dos significados (Esquemas – níveis automáticos e deliberativos). Neste sentido, o sujeito é visto como um ser independente, criativo e livre para suas escolhas, é parte do que é aqui e agora, pressuposto da contextualização na colaboração entre terapeuta e paciente. Segundo Beck e Alford (2000, p. 22) “esta colaboração permite que o terapeuta entre no mundo do paciente, usando a linguagem e o contexto cultural deste, enquanto compartilha a perspectiva cognitiva”.
A terapia cognitivo-comportamental com crianças não foge muita da estrutura original empregada na terapia com adultos, vide o uso dos diálogos socráticos, reestruturação cognitiva, tarefas e etc. Sugere-se que numa freqüência maior as crianças são encaminhadas à terapia por conta de suas dificuldades psicológicas criarem problemas para alguns sistemas, e neste sentido, Ronen (apud Friedberg & McClure, 2004, p. 18) cita que “as crianças agem dentro de sistemas como famílias e escola. O foco da TCC está no tratamento de crianças no interior de seu ambiente natural (família, escola e/ou grupos).
A terapia focada na criança trabalha junto à família, os pais podem ser contingentes em uma perspectiva mais simples quanto condutores de estímulos positivos, ainda mais se pensarmos na perspectiva de pais sabotadores, ou seja, representantes de uma disfunção familiar, a qual segundo Carvalho (2010, p. 107) “relaciona-se com problemas de comunicação e déficits para resolvê-los”, consoante Stallard (2007, p.17) sugere que “precisamos tratar das influências sistêmicas importantes que contribuem para a instalação e manutenção dos problemas da criança [...]. A influência mais importante é a dos pais/responsáveis”.
Neste pressuposto teórico, analisamos cinco elementos que estão inter-relacionados nas dificuldades psicológicas do individuo como sugerem (A. T. Beck, 1985; J. S. Beck, 1995; Padesky e Greenberg, 1995): “contexto interpessoal / ambiental, fisiologia, funcionamento emocional, comportamento e cognição do individuo”, ou seja, a compreensão geral recobre ao contexto sistêmico, interpessoal e cultural. (FRIEDBERG & McCLURE, 2004. p. 15).
Segundo Stallard (2007, p. 17) “uma tarefa-chave da TCC é facilitar o processo de descoberta orientada pelo qual a criança é ajudada a reavaliar seus pensamentos, crenças e suposições e a desenvolver cognições e processos alternativos, mais equilibrados, funcionais e úteis”. O objetivo da TCC em hipótese alguma se limita apenas a modificação dos pensamentos disfuncionais como dos comportamentos desadaptativos, pois, segundo Carvalho (2010, p. 105-106) “ela enfatiza o processo cognitivo envolvido no aprendizado: identificar o problema e buscar soluções, alternativas ou estratégias para uma adaptação adequada”.
Para Bandura (1977) e Rotter (1982), “as recompensas comunicam expectativas e correspondem à função de motivação, atenção e retenção”, aspectos da aprendizagem social (modelagem) que remete ao envolvimento e direcionamento ao que é importante; resgata-se a crença de auto-eficácia, produto de sua auto-regulação, se ensina e se pratica estratégias ou habilidades em resolução de problemas, o que começa no ato do reforçamento explícito ou quando como nos explicas Knell (1993) “as crianças são reforçadas a arrumar seus brinquedos na sala de jogos, completar a tarefa de casa, revelar seu pensamentos e seus sentimentos. (FRIEDBERG & McCLURE, 2004)
Em fim, a aplicabilidade dos instrumentos como o lúdico, e outros tipos de instrumentos (desenhos, escalas, inquéritos, testes psicológicos, e etc.) derivam do foco, da escola e da coerência terapêutica.
Não se pode nunca desacreditar dos achados de Sigmund Freud e de seus sucessores como Klein, Ana Freud e Winnicott. Sem tais achados não seria possível por assim dizer termos hoje um modelo, mesmo que ainda indefinido, de terapia infantil. A partir de Freud fora possível formular diferentes perspectivas de tratamento para o mesmo foco, A CRIANÇA.
Afinal, o simples movimento do brincar tanto se remete ao postulado educacional na proposta da pedagogia como sugere Friedrich Froebel¹, quando nas interpretações Freudianas sobre o significado inconsciente à criança. Desta fonte, bebe qualquer linha que se interesse em trabalhar as questões infantis, e mais uma vez o que nos difere são os objetivos terapêuticos e a formatação da estrutura teórica em cada abordagem psicológica.

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Referências:

BECK, Aaron T.; ALFORD, Brad A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000.
CARVALHO, L. B. C. Terapias Cognitivas. In: PINTO, G. C. Psicoterapias, 2: Conheça as diferentes práticas clínicas e escolha. São Paulo: Duetto Editorial, 2010.
FRIEDBERG, Robert D.; McCLURE, Jessica M. A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2004.
STALLARD, Paul. Guia do Terapeuta para bons pensamentos – bons sentimentos: utilizando a terapia cognitivo-comportamental com crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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