segunda-feira, 10 de setembro de 2012







As histórias infantis como forma de consciência de mundo


É no encontro com qualquer forma de Literatura que os homens têm a

oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de
vida. Nesse sentido, a Literatura apresenta-se não só como veículo de manifestação
de cultura, mas também de ideologias.
A Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo literário, deve ser
utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão
da capacidade e interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental mostrar que a
literatura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua
ambigüidade e pluralidade.
Até bem pouco tempo, em nosso século, a Literatura Infantil era considerada
como um gênero secundário, e vista pelo adulto como algo pueril (nivelada ao
brinquedo) ou útil (forma de entretenimento). A valorização da Literatura Infantil,
como formadora de consciência dentro da vida cultural das sociedades, é bem
recente.
Para investir na relação entre a interpretação do texto literário e a realidade,
não há melhor sugestão do que obras infantis que abordem questões de nosso
tempo e problemas universais , inerentes ao ser humano.
"Infantilizar" as crianças não cria cidadãos capazes de interferir na
organização de uma sociedade mais consciente e democrática.
No Brasil, a escola é o lugar privilegiado para que a criança entre em contato
com a literatura, especialmente a infantil. Muitas vezes, representa a única
oportunidade da criança entrar em contato com a leitura. No entanto, a leitura
deve ser posta na escola como uma atividade e não como uma lição, como uma
aula, uma tarefa. Segundo Ruth Rocha (1983), o texto não deve ser usado para
uma aula de gramática, a não ser que fosse usado de uma maneira muito criativa,
muito viva, muito engraçada, muito interessante, porque, se assim não for, faz com
que a leitura fique parecendo uma tarefa e – aquela velha frase de Monteiro Lobato
- “É capaz de vacinar a criança contra a leitura para sempre”.
Origens da Literatura Infantil
O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem, no momento em
que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua, que
poderia ter significação para todos. Concentra-se aqui a íntima relação entre a
literatura e a oralidade.
A célula máter da Literatura Infantil encontra-se na Novelística Popular
Medieval que tem suas origens na Índia. Descobriu-se que desde essa época a
palavra impôs-se ao homem como algo mágico, como um poder misterioso, que
tanto poderia proteger, como ameaçar, construir ou destruir. São, também, de
caráter mágico ou fantasioso, as narrativas conhecidas, hoje, como literatura
primordial. Nelas foi descoberto o fundo fabuloso das narrativas orientais, que
surgiram séculos antes de Cristo e difundiram-se por todo o mundo, através da
tradição oral.
A primeira obra realmente direcionada ao público infantil foi uma coletânea
de cantigas infantis publicada por Mary Cooper em 1744. O seu sugestivo título era:
Para todos os pequenos senhores e senhoritas, para ser cantado para eles por suas
babás até que possam cantar sozinhos. Uma segunda coletânea era entitulada
Melodia da Mamãe Gansa, provavelmente do livreiro John Newbery - 1760, por isso
ele é considerado o precursor na descoberta e exploração do mercado de livros
para crianças.
O aparecimento da Literatura Infantil tem características próprias, pois
decorre da ascensão da família burguesa, do novo "status" concedido à infância na
sociedade e da reorganização da escola. Sua emergência deveu-se, antes de tudo,
à sua associação com a Pedagogia, já que as histórias eram elaboradas para se
converterem em instrumento dela.
É a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerada um ser
diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria
distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a
preparasse para a vida adulta.
Relação professor/aluno/literatura
Ao lidar com a literatura infantil em sala de aula, o professor estabelece a
relação dialógica com o aluno, com sua cultura e com sua realidade quando, para
além de contar ou ler a história (informar os alunos sobre ela), cria condições para
que eles lidem com a história a partir de seus pontos de vista, trocando impressões
sobre ela, assumindo posições e personagens, criando novas situações através das
quais eles vão descobrindo a história original.
A literatura infantil permite inter-relacionar diferentes disciplinas estudadas
em sala de aula. Dependendo do tema da história e das metas do professor,
propicia o desenvolvimento de um ensino interdisciplinar. A obra literária infantil
trabalha com a vida. Enquanto tal, apresenta-se como recurso de ensino não
limitado ao ensino da língua; daí a possibilidade de sua utilização integradora no
ensino de diferentes disciplinas. A interação poderá ocorrer com ciências,
matemática ou educação artística.
É na relação lúdica e prazerosa da criança coma obra literária que se forma
o leitor; é na exploração simbólica da fantasia e da imaginação que desabrocha o
ato criador e se intensifica a comunicação entre texto e leitor.
Leitura do texto
A literatura infantil é um dos suportes básicos para o desenvolvimento do
processo criativo, pois ela oferece ao leitor uma bagagem de conhecimentos e
informações capaz de provocar uma ação criadora. No contato com histórias lidas
ou ouvidas, a criança vai adquirindo novas experiências. Daí a importância de ler e
contar histórias para crianças desde seus primeiros anos de vida e estimular a
leitura para que, além de ler e desfrutar do prazer de ler, elas adquiram os recursos
importantes para o desenvolvimento de sua fantasia e criatividade.
A criança pode trazer de casa um livro de história que tenha lido ou que
deseje ler. A leitura pode ser feita silenciosamente e, após a leitura, a criança
contará para os colegas o que leu, podendo desenhar a história. Essa leitura
poderá ser feita em pequenos grupos, cada um lendo uma história diferente,
trazida por uma criança. E depois, trocam-se os livros.
Para crianças menores, no entanto, o melhor é que o professor conte a
história, revivendo com os alunos uma tradição muito antiga para a humanidade:
ouvir e contar histórias.
As Mil e Uma Noites
Coleção de contos árabes (Alif lailah wa lailah) compilados provavelmente entre
os séculos XIII e XVI. O rei persa Shariar, vitimado pela infidelidade de sua mulher,
mandou matá-la e resolveu passar cada noite com uma esposa diferente, que
mandava degolar na manhã seguinte. Recebendo como mulher a Sherazade, esta
iniciou um conto que despertou o interesse do rei em ouvir-lhe a continuação na
noite seguinte. Sherazade, por artificiosa ligação dos seus contos, conseguiu
encantar o monarca por mil e uma noites e foi poupada da morte.
Os mais famosos contos são:
• O mercador e o gênio
• Aladim e a lâmpada maravilhosa
• Ali-Babá e os quarenta ladrões
• Simbá, o marinheiro
(fonte: Dicionário Enciclopédico Brasileiro - Álvaro Magalhães)
A história conta que, durante três anos, moças eram sacrificadas pelo rei,
até que já não havia mais virgens no reino, e o vizir não sabia mais o que fazer
para atender o desejo do rei. Foi quando uma de suas filhas, Sherazade, pediu-lhe
que a levasse como noiva do rei, pois sabia um estratagema para escapar ao triste
fim que a esperava. A princesa, após ser possuída pelo rei, começa a contar a
extraordinária "História do Mercador e do Efrit", mas, antes que a manhã rompesse,
ela parava seu relato, deixando um clima de suspense, só dando continuidade à
narrativa na manhã seguinte. Assim, Sherazade conseguiu sobreviver, graças à sua
palavra sábia e a curiosidade do rei. Ao fim desse tempo, ela já havia tido três
filhos e, na milésima primeira noite, pede ao rei que a poupe, por amor às crianças.
O rei finalmente responde que lhe perdoaria, sobretudo pela dignidade de
Sherazade.
Esta coletânia foi revelada ao mundo ocidental em 1704 pelo orientalista
francês Antoine Galland. Não existe texto fixo para a obra, variando seu conteúdo
de manuscrito a manuscrito. Os árabes foram reunindo e adaptando esses contos
maravilhosos de várias tradições. Assim, os contos mais antigos são provavelmente
do Egito do séc. XII. A eles foram sendo agregados contos hindus, persas, siríacos
e judaicos.
Fica então a metáfora traduzida por Sherazade: a liberdade se conquista
com o exercício da criatividade.
Como contar histórias?
Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal,
nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a
sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo
como uma canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das
rimas, com o jogo das palavras...Contar uma história é uma arte... e tão linda!!! É
ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem
remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz.
Daí que quando se vai ler uma história para a criança, não se pode fazer isso
de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante... E aí, no
decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra
palavra (ou com várias), empacar ao pronunciar o nome dum determinado
personagem ou lugar, mostrar que não percebeu o jeito como o autor construiu
suas frases e ir dando as pausas nos lugares errados, fragmentado um parágrafo
porque perdeu o fôlego ou fazendo ponto final quando aquela idéia continuava,
deslizante, na página ao lado.
Pior ainda, ficar escandalizado com uma determinada fala, ou gaguejar
ruborizado porque não esperava encontrar um palavrão, uma palavra
desconhecida, uma gíria nova, uma expressão que o adulto-leitor na ousa
normalmente.
Mas claro que não é apenas no terreno da leitura das palavras que a
dificuldade pode surgir... E o conteúdo da história, as relações entre as
personagens, as mentiras que ela pode colocar, os preconceitos que pode passar, a
fragilidade duma narrativa onde não acontece absolutamente nada??? Por isso, ler
o livro antes, bem lido, sentri como nos pega, nos emociona ou nos irrita...Assim,
quando chegar o momento de narrar a história, que se passe a emoção verdadeira.
A ensaísta cubana Alga M. Elizagaray diz que : “O narrador tem que
transmitir confiança, motivar a atenção e despertar admiração. Tem que conduzir
a situação como se fosse um virtuose que sabe seu texto, que o tem memorizado,
que pode permitir-se o luxo de fazer variações sobre o tema.”
Claro que se pode contar qualquer história à criança: comprida, curta, de
muito antigamente ou dos dias de hoje, contos de fadas, de fantasmas, realistas,
lendas, histórias em forma de poesia ou de prosa... Qualquer uma, desde que ela
seja bem conhecida do contador.
Como aproveitar o texto:
1. Evitar as descrições imensas e cheias de detalhes;
2. Saber usar as modalidades e possibilidades da voz;
3. Saber começar o momento da contação;
4. Mostrar à criança que o que ouvir está impresso num livro.
Ouvir histórias não é uma questão que se restrinja a ser alfabetizado ou
não.. Afinal, os adultos também adoram ouvir uma boa história,passar noites
contando causos, horas contando histórias pelo telefone, por querer partilhar com
outros algum momento que não tenham vivido juntos.
Antes de começar é bom pedir que se aproximem, que formem uma roda
para viverem algo especial. Que cada um encontre um jeito gostoso de ficar:
sentado, deitado, não importa como...cada um a seu gosto...E depois, quando
todos estiverem acomodados, aí começar “Era uma vez...”
Ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o
pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de
novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!
E mesmo as crianças maiores, que já sabem ler, também podem sentir
grande prazer no ouvir...Afinal, não ouvem discos, não escutam rádio: “Não
devíamos esquecer nunca que o destino da narração de contos é o de ensinar a
criança a escutar, a pensar e a ver com os olhos da imaginação. A narração é um
antiqüíssimo costume popular que podemos resgatar na noite dos séculos, mas
nunca tecnificá-la com elementos estranhos a ela. Usar “slides” ou qualquer outro
meio de ilustração e distração é interferir e neutralizar a sua mensagem, que é
sempre auditiva e não visual.” (Alga M. Elizagaray)
Ouvir histórias é viver um momento de gostosura, de prazer, de
divertimentos dos melhores.. É encantamento, maravilhamento, sedução...O livro
da criança que ainda não lê é a história contada. “Quando uma criança escuta, a
história que se lhe conta penetra nela simplesmente, como história. Mas existe
uma orelha detrás da orelha que conserva a significação do conto e o revela muito
mais tarde.” Louis Paswels.
Pré-Leitura – Incentivação
Na escola pode ser feito um trabalho para levar a criança a se interessar
pelo tema da leitura através de canções, expressão corporal, dança, observação,
contato com a realidade. Como exemplo desta última sugestão, temos que: se a
história fala em água, é possível, em sala de aula, conversar sobre a água, sua
utilidade. Se a história fala em animais, pode-se fazer um levantamento dos
animais que as crianças conhecem...
O professor pode perguntar que livros as crianças já leram e o que acharam.
Também poderá ler uma poesia que tenha alguma relação com o tema da história.
È possível ainda criar a hora da novidade: embrulhar um objeto que tenha a ver
com a história. Deixar que as crianças toquem, apalpem e cheirem. A partir daí, o
professor começa a contar a história. Poderá ainda ter uma conversa informal com
as crianças. Falar e deixar as crianças falarem tudo o que sabem sobre o
personagem da história. Trazem objetos que representam algo da história ou do
personagem ou da coisa mesma. Por exemplo: se vou contar a história do gatinho
ou do passarinho, trazer um gatinho ou um passarinho etc.
Outros recursos podem ser: uma caixinha de surpresa, a adivinhação e a
imaginação para levar a criança, através da capa do livro, a contar uma história.
Depois, o professor pergunta: vocês querem conhecer a história que o autor
contou?
Outras abordagens vão depender da criatividade e/ou experiência dos
participantes.
Os livros infantis e o desenvolvimento da criança
O caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século, foi
aberto pela Psicologia Experimental que, revelando a Inteligência como um
elemento estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama
a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento (da infância à
adolescência) e sua importância fundamental para a evolução e formação da
personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou
estruturas mentais) é constante e igual para todos. As idades correspondentes a
cada uma delas podem mudar, dependendo da criança, ou do meio em que ela
vive.
Fases normais no desenvolvimento da criança:
Primeira Infância: Movimento X Atividade (15/17 meses aos 3 anos)
• Maturação, início do desenvolvimento mental;
• Fase da invenção da mão - reconhecimento da realidade pelo tato;
• Descoberta de si mesmo e dos outros;
• Necessidade grande de contatos afetivos;
• Explora o mundo dos sentidos;
• Descoberta das formas concretas e dos seres;
• Conquista da linguagem;
• Nomeação de objetos e coisas - atribui vida aos objetos;
• Começa a formar sua autoimagem, de acordo com o que o adulto diz que
ela é, assimilando, sem questionamento, o que lhe é dito;
• Egocentrismo, jogo simbólico;
• Reconhece e nomeia partes do corpo;
• Forma frases completas;
• Nomeia o que desenha e constrói;
• Imita, principalmente, o adulto.
Histórias para crianças (faixa etária/áreas de
interesse/materiais/livros): 1 a 2 anos. A criança, nessa faixa etária, prende-se
ao movimento, ao tom de voz, e não ao conteúdo do que é contado. Ela presta
atenção ao movimento de fantoches e a objetos que conversam com ela. As
histórias devem ser rápidas e curtas. O ideal é inventá-las na hora. Os livros de
pano, madeira e plástico, também prendem a atenção. Devem ter, somente, uma
gravura em cada página, mostrando coisas simples e atrativas visualmente. Nesta
fase, há uma grande necessidade de pegar a história, segurar o fantoche, agarrar o
livro, etc.. 2 a 3 anos Nessa fase, as histórias ainda devem ser rápidas, com pouco
texto de um enredo simples e vivo, poucos personagens, aproximando-se, ao
máximo, das vivências da criança. Devem ser contadas com muito ritmo e
entonação. Tem grande interesse por histórias de bichinhos, brinquedos e seres da
natureza humanizados. Identifica-se, facilmente, com todos eles. Prendem-se a
gravuras grandes e com poucos detalhes. Os fantoches continuam sendo o material
mais adequado. A música exerce um grande fascínio sobre ela. A criança acredita
que tudo ao seu redor tem vida e vivência, por isso, a história transforma-se em
algo real, como se estivesse acontecendo mesmo.
Segunda Infância: Fantasia & Imaginação (dos 3 aos 6 anos)
• Fase lúdica e predomínio do pensamento mágico;
• Aumenta, rapidamente, seu vocabulário;
• Faz muitas perguntas. Quer saber "como" e "por quê ?";
• Egocentrismo - narcisismo;
• Não diferenciação entre a realidade externa e os produtos da fantasia
infantil;
• Desenvolvimento do sentido do "eu";
• Tem mais noção de limites (meu/teu/nosso/certo/errado);
• Tempo não tem significação - não há passado nem futuro, a vida é o
momento presente;
• Muitas imagens ainda completando, ou sugerindo os textos;
• Textos curtos e elucidativos;
• Consolidação da linguagem, onde as palavras devem corresponder às
figuras;
• Para Piaget, etapa animista, pois todas as coisas são dotadas de vida e
vontade;
• O elemento maravilhoso começa a despertar interesse na criança.
Dos 6 aos 6 anos e 11 meses, aproximadamente:
• Interesse por ler e escrever. A atenção da criança esta voltada para o
significado das coisas;
• O egocentrismo está diminuindo. Já inclui outras pessoas no seu universo;
• Seu pensamento está se tornando estável e lógico, mas ainda não é capaz
de compreender ideias totalmente abstratas;
• Só consegue raciocinar a partir do concreto;
• Começa a agir cooperativamente;
• Textos mais longos, mas as imagens ainda devem predominar sobre o
texto;
• O elemento maravilhoso exerce um grande fascínio sobre a criança.
Histórias para crianças (faixa etária/áreas de interesse/materiais/livros):
3 a 6 anos
Os livros adequados a essa fase devem propor "vivências radicadas" no
cotidiano familiar da criança e apresentar determinadas características estilísticas.
Predomínio absoluto da imagem, (gravuras, ilustrações, desenhos, etc.),
sem texto escrito, ou com textos brevíssimos, que podem ser lidos, ou
dramatizados pelo adulto, a fim de que a criança perceba a inter-relação existente
entre o "mundo real", que a cerca, e o "mundo da palavra", que nomeia o real. É a
nomeação das coisas que leva a criança a um convívio inteligente, afetivo e
profundo com a realidade circundante.
As imagens devem sugerir uma situação que seja significativa para a
criança, ou que lhe seja, de alguma forma, atraente.
A graça, o humor, um certo clima de expectativa, ou mistério são fatores
essenciais nos livros para o pré-leitor.
As crianças, nessa fase, gostam de ouvir a história várias vezes. É a fase de
"conte outra vez".
Histórias com dobraduras simples, que a criança possa acompanhar,
também exercem grande fascínio. Outro recurso é a transformação do contador de
histórias com roupas e objetos característicos. A criança acredita, realmente, que o
contador de histórias se transformou no personagem ao colocar uma máscara,
chapéu, capa, etc..
Podemos enriquecer a base de experiências da criança, variando o material
que lhe é oferecido. Materiais como massa de modelar e argila atraem a criança
para novas experimentações. Por exemplo, a história do "Bonequinho Doce" sugere
a confecção de um bonequinho de massa, e a história da "Galinha Ruiva" pode
sugerir amassar e assar um pão.
Assim como as histórias infantis, os contos de fadas têm um determinado
momento para serem introduzidos no desenvolvimento da criança, variando de
acordo com o grau de complexidade de cada história.
Os contos de fadas, tais como: "O Lobo e os Sete Cabritinhos", "Os Três
Porquinhos", "Cachinhos de Ouro", "A Galinha Ruiva" e "O Patinho Feio"
apresentam uma estrutura bastante simples e têm poucos personagens, sendo
adequados a crianças entre 3 e 4 anos. Enquanto, "Chapeuzinho Vermelho", "O
Soldadinho de Chumbo" (conto de Andersen), "Pedro e o Lobo", "João e Maria",
"Mindinha" e o "Pequeno Polegar" são adequados a crianças entre 4 e 6 anos.
Histórias para crianças (faixa etária/áreas de interesse/materiais/livros):
6 a 6 anos e 11 meses
Os contos de fadas citados na fase anterior ainda exercem fascínio nessa
fase. "Branca de Neve e os Sete Anões", "Cinderela", "A Bela Adormecida", "João e
o Pé de Feijão", "Pinóquio" e "O Gato de Botas" podem ser contadas com poucos
detalhes.
]
Estudo das diversas modalidades de textos infantis
Fábulas (do latim- fari - falar e do grego - Phao - contar algo)
Narrativa (de natureza simbólica) de uma situação vivida por animais, que
alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. A
apresentação de uma exemplaridade espelha a moralidade social da época. Essa
moral é fechada, inquestionável. A não-mudança implementada pelas fábulas
retrata uma preocupação com a manutenção da ordem estabelecida. Oferece,
então, um modelo de comportamento maniqueísta; onde o "certo" deve ser copiado
e o "errado", evitado.
A presença dos animais deve-se, sobretudo, ao convívio mais efetivo entre
homens e animais naquela época. O uso constante da natureza e dos animais para
a alegorização da existência humana aproximam o público das "moralidades".
Assim apresentam similaridade com a proposta das parábolas bíblicas.
Algumas associações entre animais e características humanas, feitas pelas
fábulas, mantiveram-se fixas em várias histórias e permanecem até os dias de
hoje.
leão - poder real
raposa - astúcia e esperteza
lobo - dominação do mais forte
cordeiro - ingenuidade
A proposta principal da fábula é a fusão de dois elementos: o lúdico e o
pedagógico. As histórias, ao mesmo tempo que distraem o leitor, apresentam as
virtudes e os defeitos humanos através de animais. Acreditavam que a moral, para
ser assimilada, precisava da alegria e distração contida na história dos animais que
possuem características humanas. Desta maneira, a aparência de entretenimento
camufla a proposta didática presente.
A fabulação ou afabulação é a lição moral apresentada através da narrativa.
O epitímio constitui o texto que explicita a moral da fábula, sendo o cerne da
transmissão dos valores ideológicos sociais.
Este tipo de texto já aparece no século XVIII a.C., na Suméria. Nascido no
Oriente, vai ser reinventado no Ocidente pelo grego Esopo (Séc. V a.C.) e
aperfeiçoado, séculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Séc. I a.C.) que o
enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X, começaram a ser
conhecidas as fábulas latinas de Fedro.
Ao francês Jean La Fontaine (1621/1692) coube o mérito de dar a forma
definitiva a uma das espécies literárias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a
fábula, introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental. Embora escrevendo
para adultos, La Fontaine tem sido leitura obrigatória para crianças de todo mundo.
Podemos citar aqui algumas fábulas de La Fontaine: "O Lobo e o Cordeiro",
"A Raposa e o Esquilo", "Animais Enfermos da Peste", "A Corte do Leão", "O Leão e
o Rato", "O Pastor e o Rei", "O Leão, o Lobo e a Raposa", "A Cigarra e a Formiga",
"O Leão Doente e a Raposa", "A Corte e o Leão", "Os Funerais da Leoa", "A Leiteira
e o Pote de Leite".
Contos de Fadas
Quem lê "Cinderela" não imagina que há registros de que essa história já era
contada na China, durante o século IX d. C.. E, assim como tantas outras, tem-se
perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a perenidade do folclore dos
povos, sobretudo, através da tradição oral.
Pode-se dizer que os contos de fadas, na versão literária, atualizam ou
reinterpretam, em suas variantes questões universais, como os conflitos do poder e
a formação dos valores, misturando realidade e fantasia, no clima do "Era uma
vez...".
Por lidarem com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais
da condição humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se
até hoje. Neles encontramos o amor, os medos, as dificuldades de ser criança, as
carências (materiais e afetivas), as autodescobertas, as perdas, as buscas, a
solidão e o encontro.
Os contos de fadas caracterizam-se pela presença do elemento "fada".
Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, oráculo).
Tornaram-se conhecidas como seres fantásticos ou imaginários, de grande
beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes
sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em situações-limite,
quando já nenhuma solução natural seria possível.
Podem, ainda, encarnar o Mal e apresentarem-se como o avesso da
imagem anterior, isto é, como bruxas. Vulgarmente, se diz que fada e bruxa são
formas simbólicas da eterna dualidade da mulher, ou da condição feminina.
O enredo básico dos contos de fadas expressa os obstáculos, ou provas,
que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual iniciático, para que o herói
alcance sua autorrealização existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro "eu",
seja pelo encontro da princesa, que encarna o ideal a ser alcançado.
Estrutura básica dos contos de fadas
• Início - nele aparece o herói (ou heroína) e sua dificuldade ou restrição.
Problemas vinculados à realidade, como estados de carência, penúria,
conflitos, etc., que desequilibram a tranqüilidade inicial;
• Ruptura - é quando o herói se desliga de sua vida concreta, sai da proteção
e mergulha no completo desconhecido;
• Confronto e superação de obstáculos e perigos - busca de soluções no
plano da fantasia com a introdução de elementos imaginários;
• Restauração - início do processo de descobrir o novo, possibilidades,
potencialidades e polaridades opostas;
• Desfecho - volta à realidade. União dos opostos, germinação,
florescimento, colheita e transcendência.
Lendas (do latim legenda/legen - ler)
Nas primeiras idades do mundo, os homens não escreviam. Conservavam
suas lembranças na tradição oral. Onde a memória falhava, entrava a imaginação
para supri-la e a imaginação era o que povoava de seres o seu mundo.
Todas as formas expressivas nasceram, certamente, a partir do momento
em que o homem sentiu necessidade de procurar uma explicação qualquer para os
fatos que aconteciam a seu redor: os sucessos de sua luta contra a natureza, os
animais e as inclemências do meio ambiente, uma espécie de exorcismo para
espantar os espíritos do mal e trazer para sua vida os atos dos espíritos do bem.
A lenda, em especial as mitológicas, constitui o resumo do assombro e do
temor do homem diante do mundo e uma explicação necessária das coisas. A
lenda, assim, não é mais do que o pensamento infantil da humanidade, em sua
primeira etapa, refletindo o drama humano ante o outro, em que atuam os astros e
meteoros, forças desencadeadas e ocultas.
A lenda é uma forma de narrativa antiqüíssima, cujo argumento é tirado da
tradição. Relato de acontecimentos, onde o maravilhoso e o imaginário superam o
histórico e o verdadeiro.
Geralmente, a lenda está marcada por um profundo sentimento de
fatalidade. Este sentimento é importante, porque fixa a presença do Destino, aquilo
contra o que não se pode lutar e demonstra, irrecusavelmente, o pensamento do
homem dominado pela força do desconhecido.
De origem muitas vezes anônima, a lenda é transmitida e conservada pela
tradição oral.
Poesia
O gênero poético tem uma configuração distinta dos demais gêneros
literários. Sua brevidade, aliada ao potencial simbólico apresentado, transforma a
poesia em uma atraente e lúdica forma de contato com o texto literário.
Há poetas que quase brincam com as palavras, de modo a cativar as
crianças que ouvem, ou leem esse tipo de texto. Lidam com toda uma ludicidade
verbal, sonora e musical, no jeito como vão juntando as palavras e acabam por
tornar a leitura algo muito divertido.
Como recursos para despertar o interesse do pequeno leitor, os autores
utilizam-se de rimas bem simples e que usem palavras do cotidiano infantil; um
ritmo que apresente certa musicalidade ao texto; repetição, para fixação da idéias,
e melhor compreensão dentre outros.
Pode-se refletir, acerca da receptividade das crianças à poesia, lendo as
considerações de Jesualdo:
"(...) a criança tem uma alma poética. E é essencialmente criadora. Assim, as
palavras do poeta, as que procuraram chegar até ela pelos caminhos mais naturais,
mesmo sendo os mais profundos em sua síntese, não importa, nunca serão melhor
recebidas em lugar algum do que em sua alma, por ser mais nova, mais virgem
(...)"
A importância do Maravilhoso na Literatura Infantil
Em seus primórdios, a Literatura foi essencialmente fantástica. Nessa época
era inacessível à humanidade o conhecimento científico dos fenômenos da vida
natural ou humana, assim sendo o pensamento mágico dominava em lugar da
lógica que conhecemos. A essa fase mágica, e já revelando preocupação crítica às
relações humanas ao nível do social, correspondem as fábulas. Compreende-se,
pois, porque essa literatura arcaica acabou se transformando em Literatura Infantil:
a natureza mágica de sua matéria atrai espontaneamente as crianças.
A literatura fantasista foi a forma privilegiada da Literatura Infantil, desde
seus primórdios (sec. VII), até a entrada do Romantismo, quando o maravilhoso
dos contos populares é definitivamente incorporado ao seu acervo (pelo trabalho
dos Irmãos Grimm, na Alemanha; de Hans Christian Andersen, na Dinamarca;
Garret e Herculano em Portugal; etc.)
Considera-se como Maravilhoso todas as situações que ocorrem fora do
nosso entendimento da dicotomia espaço/tempo ou realizada em local vago ou
indeterminado na terra. Tais fenômenos não obedecem as leis naturais que regem
o planeta.
O Maravilhoso sempre foi e continua sendo um dos elementos mais
importantes na literatura destinada às crianças. Através do prazer ou das emoções
que as estórias lhes proporcionam, o simbolismo que está implícito nas tramas e
personagens vai agir em seu inconsciente, atuando pouco a pouco para ajudar a
resolver os conflitos interiores normais nessa fase da vida.
A Psicanálise afirma que os significados simbólicos dos contos maravilhosos
estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu
amadurecimento emocional. É durante essa fase que surge a necessidade da
criança em defender sua vontade e sua independência em relação ao poder dos
pais ou à rivalidade com os irmãos ou amigos.
É nesse sentido que a Literatura Infantil e, principalmente, os contos de
fadas podem ser decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao
mundo à sua volta. O maniqueísmo que divide as personagens em boas e más,
belas ou feias, poderosas ou fracas, etc. facilita à criança a compreensão de certos
valores básicos da conduta humana ou convívio social. Tal dicotomia, se transmitida
através de uma linguagem simbólica, e durante a infância, não será prejudicial à
formação de sua consciência ética.. O que as crianças encontram nos contos de
fadas são, na verdade, categorias de valor que são perenes. O que muda é apenas o
conteúdo rotulado de bom ou mau, certo ou errado.
Lembra a Psicanálise, que a criança é levada a se identificar com o herói bom
e belo, não devido à sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a própria
personificação de seus problemas infantis: seu inconsciente desejo de bondade e
beleza e, principalmente, sua necessidade de segurança e proteção. Pode assim
superar o medo que a inibe e enfrentar os perigos e ameaças que sente à sua
volta, podendo alcançar gradativamente o equilíbrio adulto.
A área do Maravilhoso, da fábula, dos mitos e das lendas tem linguagem
metafórica que se comunica facilmente com o pensamento mágico, natural das
crianças.
Segundo a Psicanálise, os significados simbólicos dos contos maravilhosos
estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu
amadurecimento emocional.
Bibliografia
www.eduk.com.br
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:
Scipione, 1989.
SORDI, Rose. Magistrando a Língua Portuguesa: literatura brasileira, redação,
gramática, metodologia de ensino e literatura infantil. São Paulo: Moderna, 1991.
OLIVEIRA, Maria Alexandre

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