quinta-feira, 13 de outubro de 2011

PARA MÃES E EDUCADORES





Poder da Inteligência
REVISTA VEJA
Pesquisas revelam que as pessoas com QI elevado têm também inteligência emocional com alto potencial e boas chances de realização pessoal e profissional. Sabe-se agora que o nível de inteligência da humanidade tem aumentado muito. E, segundo os especialistas, existe um arsenal de recursos para expandir a capacidade mental das pessoas, sobretudo a inteligência das crianças.
Fotos Claudio Rossi

O casal de neurologistas Joel e Márcia Teixeira e seus filhos, Marina e Felipe: todos na família têm inteligência acima da média. Joel é presidente da Mensa.

O engenheiro Carlos Leite e os sobrinhos André e Pedro Moreira Graça: exemplos da evolução da inteligência. Pedro, o mais novo, tem o QI mais alto.
Marcos Penteado/Divulgação TV Cultura

Roger, o roqueiro do grupo Ultraje a Rigor, que levou a vida escolar na flauta e até hoje não faz muito esforço para ser feliz: "Sempre consegui tudo o que quis"

As fotos acima são de sócios de uma organização peculiar: a Mensa Brasil. Ela é o braço brasileiro de um clube internacional (com site na internet no endereço www.mensa.org), nascido na Inglaterra em 1946, que reúne alguns dos donos dos mais altos quocientes de inteligência (QIs) de todo o planeta. Conversar com essa gente é uma experiência que comprova algumas das últimas descobertas feitas pelos cientistas que pesquisam a inteligência e o comportamento humanos. Essas pessoas tendem a ser mais curiosas, seus interesses abrangem um universo maior e a relação delas com o mundo é mais rica. Há os gênios ranzinzas e os sábios ermitãos, mas tudo indica que estes são exceção à regra. Pelo que a ciência vem reafirmando, o quociente de inteligência medido pelos testes mais tradicionais (aqueles que detectam a capacidade de raciocínio lingüístico, matemático e lógico) indica também o potencial da pessoa para se relacionar com os outros e para enfrentar os problemas do dia-a-dia.
Nessa perspectiva, o QI seria um fator importantíssimo para o sucesso na busca da felicidade. "As pesquisas têm demonstrado que as pessoas com menor quociente de inteligência tendem a ter pior performance na escola, carreiras profissionais problemáticas, laços familiares frágeis e, por tudo isso, a apresentar mais freqüentemente quadros depressivos", diz a psicoterapeuta americana Cathi Cohen, que trabalha com programas de treinamento de crianças em Washington e há quinze anos pesquisa a relação entre inteligência e felicidade.
O roqueiro Roger Rocha Moreira, do grupo Ultraje a Rigor, tem 44 anos e QI 172 – altíssimo. O QI médio fica entre 90 e 110. Ele está em uma das fotos que ilustram a abertura desta reportagem. Roger se alfabetizou sozinho aos 3 anos de idade, pulou a 4ª série primária porque já sabia tudo que estava sendo ensinado e chegou ao 2º ano do curso de arquitetura antes de decidir seguir carreira musical. "Sempre consegui tudo que quis", ele diz. Há outros exemplos de pessoas inteligentes, bem-sucedidas e bem conhecidas dos brasileiros no decorrer desta reportagem. Como se verá, quem tem alto quociente de inteligência não precisa necessariamente ter um diploma em física quântica. O QI de Jayne Mansfield, símbolo sexual produzido para fazer frente a Marilyn Monroe, era 163. O ator James Woods estudou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o renomado MIT. No teste para entrar na escola acertou as 800 questões de conhecimentos gerais e 779 das 800 de matemática. Seu QI: 180. E a atriz Sharon Stone, que sempre é lembrada pela cruzada sensacional de pernas que dá no filme Instinto Selvagem, entrou na universidade aos 15 anos de idade e tem QI 154.
Fotos Paulo Vitale
RAPHAEL RAMOS


Aos 4 anos, ele deu um susto na mãe. Superou-a num jogo de conhecimentos gerais. Seu QI é 139. Seu problema, fingir que não sabe ler nem escrever para ser igual aos colegas de escola
Não tão famoso, o médico e neurocirurgião paulista Joel Augusto Ribeiro Teixeira, 32 anos, é o presidente da Mensa Brasil. Sua mulher, Márcia Hartmann Teixeira, neurologista e musicista nas horas vagas, também é sócia da Mensa. Convivendo com computadores, filmes falados em inglês, videogames e com os amigos dos pais, os dois filhos, Felipe, de 1 ano e meio, e Marina, de 3 anos e meio, desenvolveram habilidades precoces. Felipe canta várias músicas de cor e reconhece notas musicais. Marina começou a falar aos 8 meses e aprendeu a ler sozinha aos 3 anos. E canta músicas em inglês sem nunca ter aprendido a língua – apenas repetindo o som que escuta.
A família de Joel é um exemplo de outra conclusão a que os pesquisadores da mente humana estão chegando: de que o QI médio da população mundial tem se elevado. E não pouca coisa. Na Inglaterra, o salto foi de 27 pontos desde 1942. Nos Estados Unidos, foram 12 pontos desde 1932. Na Holanda, em dez anos se registrou um salto de 20 pontos, e, na Argentina, 22 pontos a mais desde 1964. Em 25 países onde as medições acontecem de forma regular, verificou-se um progresso notável no nível intelectual da população, e os pesquisadores acreditam que a descoberta pode ser generalizada para o planeta. "As transformações são dramáticas", diz Oliver Sacks, neurologista inglês, professor no Albert Einstein College of Medicine, de Nova York. "Devem estar ocorrendo mudanças e reorganizações fisiológicas e anatômicas na microtextura do cérebro que ainda não podemos entender plenamente." A inferência que se pode fazer é a seguinte: com uma cabeça melhor, o quociente de felicidade da humanidade, por assim dizer, também deve estar mais alto.
HECTOR TERCEROS


Com inteligência superior à das crianças de sua idade e sem o apoio da escola, ele vivia deprimido. A solução foi encontrar um colégio que atendesse a suas expectativas. "Me sentia abafado. Agora estou feliz"
No Brasil a prática da medição do QI não é muito difundida. Normalmente os testes são aplicados em crianças que apresentam comportamento destoante na escola, no clube ou em casa. São crianças que têm deficiências de aprendizagem ou de relacionamento social. Portanto o Brasil não contribui com informações para os trabalhos feitos por neurologistas e psicólogos. A instituição que aplica provas regulares e formais no país – e isso há apenas um ano – é a Mensa Brasil.
Outro exemplo da evolução generacional da inteligência é o da família de Carlos Leite, engenheiro. Leite tem QI 164. É um expoente na faculdade, adora matemática, toca guitarra, lê tudo que lhe cai nas mãos. Um de seus sobrinhos, no entanto, conseguiu superar o índice já alto do tio no teste de QI. Pedro Moreira Graça, de 15 anos, tem QI 168 e seu irmão, André, de 16 anos, chega aos 152. Quando criança, André observava a irmã mais velha aprendendo a ler. Aos 4 anos, numa pizzaria, leu o cardápio e escolheu o sabor de sua preferência. A máxima de André: "Ser inteligente não é saber muita coisa. É saber o que é necessário". Pedro quer estudar filosofia e psicologia. André prefere composição musical. Os irmãos são diferentes em várias coisas. Em comum, possuem uma inteligência excepcional, maior que a do tio-cabeça.
As explicações mais razoáveis para a elevação do nível médio de inteligência da população têm a ver com alguns dos progressos do mundo moderno. São as seguintes:
• As pessoas estão mais expostas a informações, estímulos visuais e desafios.
• As famílias são menores, o que permite aos pais dar mais atenção aos filhos, responder a suas perguntas com maior paciência.
• O trabalho, de forma geral, exige maior esforço mental e faz com que as pessoas aprimorem seus conhecimentos lendo ou viajando.
• Até as atividades de lazer demandam maior conhecimento hoje que no passado.
• Computadores, videogames e holografias formam cérebros acostumados a lidar com várias dimensões e aumentam o poder de concentração.
• O novo modelo de escola permite que as crianças mostrem e desenvolvam seus interesses. Aulas monótonas estão cada vez mais em baixa. Os alunos estão mais interessados em entender processos que em decorar dados.
• A globalização amplia o universo individual e familiar, põe o indivíduo em contato com culturas, línguas e costumes diferentes.
Dedoc


Escola Antiga
lousa, giz, aula discursiva, professor autoritário, lápis e borracha davam sono nos estudantes e não estimulavam ninguém a pensar e a aprender. Ir à aula era o pior momento do dia

Raul Junior


Escola Moderna
desenvolvimento de projetos, estudos do meio, aulas participativas e muitos recursos audiovisuais estimulam a criatividade e o raciocínio. Com a internet, as enciclopédias foram para a prateleira

Há um efeito multiplicador na inteligência. Pessoas inteligentes e competentes são estimuladas por ambientes mais ricos em informação, mais livres para a criatividade. Vivendo nesses ambientes, elas provocam mudanças, oferecem novos estímulos e ensejam o crescimento daqueles com quem convivem. Assim, a média da inteligência da população sobe. "O QI das pessoas é afetado pelo ambiente e pelos genes e o ambiente em que vivem é determinado pelo seu QI", diz William Dickens, pesquisador da Brookings Institution, dos Estados Unidos, autor de um artigo sobre o tema na edição de abril da Psychological Review, revista publicada pela Associação Americana de Psicologia. Está aí algo a que se deve prestar muita atenção. "É visível que as crianças são mais inteligentes hoje que no passado. Elas são capazes de dominar um universo muito grande de informações e instrumentos e se adaptam com facilidade a situações novas", diz Ricardo Costa Mesquita, diretor pedagógico da escola Oswald de Andrade, em São Paulo. "Nem todos os educadores estão preparados para lidar com esse novo público e por isso os pais devem ter um cuidado especial com seus filhos no momento atual."
Hector Montenegro Terceros tem 9 anos de idade e mora em São Paulo. O pai é engenheiro eletricista e a mãe, historiadora. Quando estava na pré-escola, Hector aprendeu a ler e escrever em apenas duas semanas. A professora, percebendo a precocidade do garoto, aplicou-lhe uma avaliação de nível de raciocínio e descobriu que ele era mais rápido que os colegas. Hector estudava numa escola particular bem conceituada, mas com um método de ensino que tende a ignorar as diferenças intelectuais entre os alunos. Baseava-se fortemente na memorização. O menino tirava notas altas, mas estava sempre infeliz. Não tinha muitos amigos. Não podia aprofundar os assuntos para não alterar o ritmo da classe. "Ele estava sempre deprimido", lembra o pai, Carlos Juvenal Terceros Siles.
100
Em 1.932, nos Estados Unidos, este era o QI médio das crianças
112
Usando a mesma escala, o QI dos americanos, hoje, é 12 pontos maior
Há dois anos os pais do menino concluíram que, sem ajuda profissional, o filho se despedaçaria emocionalmente. Levaram-no para fazer uma avaliação psicológica que incluía um teste de QI. Descobriram que Hector tinha inteligência acima da média, 135. Mudaram o garoto de escola. Hoje ele estuda no Colégio Objetivo, que tem um programa de incentivo aos supertalentos. Faz cursos extracurriculares, entre eles um de tecnologia e outro de literatura. "Antes me sentia muito abafado. Agora tenho colegas da minha e de outras classes. Estou muito mais feliz", diz Hector.
O menino Raphael Ramos, de 4 anos de idade, deu um susto na mãe quando, num fim de semana no sítio, foi brincar com um jogo de conhecimentos gerais e, de setenta perguntas, errou apenas dez. No mês passado, Raphael estava fazendo uma bateria de testes para avaliar sua inteligência. O QI: 139. O psicólogo descobriu que o menino tem capacidade de abstração, de compreensão de conceitos, de manutenção da atenção e memória visual e verbal muito grande. Seu problema mais grave: como não quer que os coleguinhas do jardim-de-infância achem que ele é diferente, finge que não sabe ler nem escrever. "Raphael precisa ter atividades de grupo, estar sempre entre crianças. Se seu relacionamento social não for bem trabalhado, ele acabará se isolando", explica Daniel Fuentes, neuropsicólogo do Hospital das Clínicas de São Paulo. A moral dessa história é a seguinte: é preciso estar atento aos desafios que cercam até mesmo os mais inteligentes.
Hoje é consensual a idéia de que o cérebro é um órgão com enorme capacidade de adaptação e expansão. Mais trabalhado, ele desenvolve mais ligações entre neurônios, as chamadas sinapses. Pessoas cujo cérebro tem mais sinapses raciocinam mais rápido e resolvem problemas de modo mais eficaz. Para desenvolver uma teia mais complexa não basta o trabalho exaustivo sobre livros e computadores. Estão recomendadas também conversas, passeios, viagens. Cultivar amizades e promover brincadeiras são práticas importantes. Então, mãos à obra. O trabalho que se exige para o desenvolvimento da inteligência não é assim tão enfadonho.
Um método para estimular a inteligência das crianças
25 anos MHá yrna Shure, professora na Universidade de Ciências da Saúde da Filadélfia, vem aplicando em grupos experimentais, nos Estados Unidos, um método que desenvolveu para que pais e professores ensinem as crianças a pensar. Myrna lançou um livro, Raising a Thinking Child, que é uma espécie de manual para pais que queiram estimular a inteligência de seus filhos e está entre os mais vendidos no país. É um roteiro de jogos de conversa. Pais e professores devem trabalhar algumas palavras e expressões até que elas tenham significado para a criança e seu raciocínio vá se tornando mais complexo. Algumas das palavras-chave e sugestões de perguntas para diálogos a serem explorados desde que a criança começa a balbuciar são as seguintes:
• É/NÃO É – "Você é um menino. O que você não é?"
• E/OU – "Devo comprar laranjas ou maçãs? Ou devo comprar laranjas e maçãs?"
• POR QUE/PORQUE – "Por que você acha que é importante usar cinto de segurança?"
• IGUAL/DIFERENTE – "O que estas duas bolas têm de igual e o que têm de diferente?" "Você consegue fazer coisas diferentes, como sentar e pular, ao mesmo tempo?"
• TRISTE/FELIZ – "O que sente uma pessoa que está chorando? Como você sabe?" "Como você está se sentindo agora?"
• AGORA/DEPOIS – "À tarde a mamãe tem de trabalhar. Você quer assistir à televisão agora ou prefere brincar com a mamãe e deixar a TV para depois?"
• ALGUNS/TODOS – "Neste jardim todas as flores são vermelhas ou há algumas amarelas?"
• ANTES/DEPOIS – "Eu mexo o leite com a colher antes ou depois de ter posto o chocolate em pó?" "Você bateu no menino antes ou depois de ele ter lhe xingado?"
• BOA HORA/MA HORA – "Como você acha que eu me sinto quando estou conversando e você me interrompe? Esta é uma boa hora para você falar comigo?"
Por que as crianças ficam mais inteligentes a cada geração
Uma pesquisa feita no início do ano pela Faculdade de Psicologia da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, descobriu que a média do QI das crianças, em uma dezena de países, subiu mais de 20 pontos nos últimos cinqüenta anos. As razões, segundo os pesquisadores, são as seguintes
• As famílias são menores, o que permite aos pais dar mais atenção a cada um dos filhos
• Os empregos demandam mais atividade intelectual, o que obriga as pessoas a se atualizarem permanentemente. Pais intelectualmente ativos estimulam seus filhos a ser da mesma forma
• Nos momentos de lazer, até mesmo para manterem uma conversa com amigos, as pessoas têm de estar atualizadas e bem informadas. O ambiente induz a uma atividade intelectual mais intensa
• Os equipamentos eletroeletrônicos e de comunicação domésticos ajudam a formar crianças com habilidades múltiplas. Mexendo no computador, mudando o canal da televisão e ouvindo música, a criança exercita a memória e treina a capacidade de manter a atenção em várias coisas ao mesmo tempo
Os traços comuns da inteligência na infância
Dez sinais que indicam atividade cerebral intensa e produtiva, segundo o psicólogo e pedagogo americano Frederick Tuttle, autor do best-seller Características e Identificação de Estudantes Talentosos, ainda sem tradução para o português
• Curiosidade
• Persistência e empenho na satisfação de interesses
• Capacidade de autocrítica e de criticar os outros
• Bom humor
• Facilidade de propor idéias diante de um estímulo novo
• Liderança
• Capacidade de se indignar diante de injustiças
• Facilidade de adaptação a desafios novos
• Imaginação e fantasia sob controle
• Facilidade de relacionar informações aparentemente diversas e distantes







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